domingo, 11 de julho de 2010

Quando penso em você...

... eu vejo como sou limitada.

O Rimbaud, como vários outros, me lembra como existem pessoas acima da média, muito acima dessa grande mediocridade que reina muitas [e muitas] vezes. Pessoas que ficam em cima do muro tanto em talento quanto em ideais, política, sexualidade, enfim, vida. Pessoas que não serão lembradas.

Mas o Rimbaud não, ele CAUSOU. Já na escola, no quarto ano, fazia traduções do latim (o que na época era normal, e é interessante como os parâmetros mudam, no quarto ano a pessoa sabia escrever e traduzir de uma língua como o latim e hoje em dia sai do ensino médio sem saber ao certo o que é verbo To Be...).

Compôs seus primeiros poemas em latim e teve muitas publicações. Seu primeiro contato com a literatura foi, portando, com os grandes clássicos e o começo de sua criação se deu na forma de pastiche. Nessa época ele escreve uma fábula em latim que os próprios latinistas confundem, achando que é original (oi?).

Na adolescência lê outros autores, como o Vitor Hugo, por exemplo, pela influência de um professor. Foge várias vezes de casa e vai parar em Paris, onde conhece Paul Verlaine, seu futuro atribulado caso amoroso.

Desafia grandes poetas, acusa a grade mediocridade deles, formado pela Tradição, não se prende a ela. Na realidade, não é uma questão de não se prender, mas de ultrapassar, de transcender. Rimbaud vai muito além: ele transborda.

Dá cores às vogais: propõe uma revolução literária com a qual não teve contato., quero dizer, antes dele Baudelaire tinha (e)levado ao máximo o conceito de sinestesia e sem que tivesse contato ele, Rimbaud também busca o exploramento supra da linguagem. E quer atingir não mais pelos olhos, mas pelos poros.

Rimbaud tinha consciência absurda (no sentido bom) de si mesmo e do papel que sua arte representava, se não naquele momento, mas para toda a posterioridade. Todos os escritores, sobretudo poetas, devem a ele a Modernidade.

E é claro, ele teve muuuuito tempo para fazer isso, não é? Nããão!!! Praticamente, toda sua poesia em língua francesa foi feita dos 15 aos 18 anos (sim, eu tenho dor de cotovelo)!!!

Outra coisa que surpreende neste poeta formidável, é a mudança, não apenas de vida, mas de aspecto físico. Em 1875 ele abandona a França, fica um ano alistado na guerra e depois parte para o norte da África, onde passa o resto da sua vida (morre muito cedo, com 37 anos).

Não preciso descrever a mudança, vejam as fotos:



















Enfim, se eu pudesse perguntar algo a ele seria apenas isso: o que diabos você foi fazer na África?? Acho que ele responderia: fugir dos meus próprios demônios. Enfim, é uma coisa que entendo (depois de ler alguns estudos e “Uma temporada (ou Estação) no Inferno”, eu consigo entender, apesar de não conseguir explicar.

Como bem disse Leminski, se Rimbaud vivesse nos dias de hoje, seria um cantor de rock. Concordo.

“O que Mallarmé não parece ter adivinhado é que o 'Viajante notável' voltaria, que ia ficar, que não pararia de crescer, que sua influência se estenderia sobre todas as gerações e que aquele garoto seria no século novo não o mestre, e sim, melhor ainda, o mensageiro, o profeta de toda uma juventude febril, entusiasta, rebelde”

Georges Duhamev

2 comentários:

Ana B. disse...

"ele transborda"

é bem isso!

e adoro ler Rimbaud nos meus dias de tormentos xD

Laís Costa disse...

Ohhh..quero mérito nessa inspiração para fazer esse texto...hehhe
Ótimo texto Dai...agora só espero a nota..:P

bjo
s2