quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Aumento um ponto sim

Tema: Quem conta um conto aumenta um ponto

E assim se desenha no ponto e cruz, no croché. Mas só quando se é inexperiente ou quando se faz desenho novo, copiado de revista ou de programa de tv à tarde.


Quando a gente vai contando os pontos, percorrendo o caminho que fez, a gente pode prosseguir, continuar. É de ponto em ponto que a gente vai preenchendo espaços. Às vezes quando o trabalho é difícil, mesmo sabendo como fazer, a gente conta, conta que é para não perder o fio da meada. Dar conta certinho do barrado.


Uma hora a gente aprende que a vida não é tão maniqueísta assim e que aumentar um ponto pode ser bom. A vida é feita a mão, e se eu quiser aumentar um ponto, que bom, a criatividade agradece.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Mentira não - uma versão!


Tema: quem conta um conto aumenta um ponto.




Engraçada a adolescência! Acho que as comparações nesse período são mais acentuadas que em outros da vida. É um medo de parecer menos, um desejo de se encaixar, sei lá!

Eu por exemplo, lá pelos meus, hã, é, então, deixa pra lá, é fato que minhas amigas já estavam em estágios mais avançados e eu nunca tinha andado nem de mãos dadas com um garoto, mas isso era um segredo de morte, tanto que à época do meu primeiro namoradinho, naquele período inicial quando você conta sobre seus relacionamentos anteriores e coisa e tal, eu disse ao Jean - o nome do meu primeiro namoradinho é Jean, aquele baixinho lindo - então, eu disse a ele que eu já tinha ficado com VÁRIOS garotos. 

Ora, que mal tinha nisso?! Não era de todo uma mentira, eu realmente já tinha pego VÁRIOS - em sonhos, fantasias, num universo paralelo onde havia uma eu menos tímida e menos romântica. Mas eu não podia contar isso pra ele, era segredo, lembra?!

Enfim, eu beijei enfim! Lembro-me como se fosse hoje, nós ali, em frente à Igreja que freqüento até hoje, encostados numa brasília amarela que estava estacionada por lá. 

Ah, aquela brasília! Ah, o meu medo de que o Jean percebesse que eu era uma amadora! 

Mas acho que há coisas que a gente já nasce sabendo, pois ele nem desconfiou.

Anos mais tarde, contei toda a verdade a ele, e ele , claro, ficou lisonjeado por ter sido escolhido pra viver aquele momento especial comigo. E eu, claro, fiquei feliz, porque versões podem ser fantásticas, mas as histórias originais são sempre as mais interessantes!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Fofoca viesada

Tema: Quem conta um conto, aumenta um ponto.



Muitas pessoas têm que supervalorizar seus feitos para se sentirem seguras, outras exageram nas histórias que contam para serem mais engraçadas ou mais tristes, a verdade é que há inúmeras maneiras de contar um mesmo causo, só depende de quem vai contá-lo.

Não acho que “aumentar um ponto” seja sempre por maldade. No meu caso, por exemplo, tenho a memória fraca (principalmente quando bebo), então, quando conto a alguém alguma coisa que fiquei sabendo, conto do meu jeito, da maneira que lembro, às vezes, até mesmo, diminuindo um ponto.  

Por isso que não devemos acreditar em tudo que escutamos. Todos são viesados ao contar algo sobre alguém que gostam ou não ou sobre si mesmos. 

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Das histórias em primeira pessoa.


Tema da Semana: Quem conta um conto, aumenta um ponto.




De todas as distorções que já ouvi em histórias contadas por aí, as mais risíveis são aquelas feitas em histórias a respeito do próprio narrador. Muitas vezes a pessoa perde o senso do ridículo, pois enquanto fala, sua única preocupação é parecer mais do que é, ou mais vítima do que foi.

E assim os personagens "reais" tomam ares de  vilões de novela mexicana, o facebook destrói relacionamentos, o ex-namorado se torna o monstro do lago ness, a ex namorada se torna uma stalker crônica, tudo é possível, todos são loucos, obcecados em destruir a vida do herói da história, que é, obviamente, o narrador. Outras vezes, a história está repleta de pessoas desesperadas, que precisam de ajuda, coisa que nosso herói narrador não vai deixar de lhes oferecer, etc e tal. No final, comumente o esforço do herói não é reconhecido, e as pessoas desesperadas são promovidas a pessoas ingratas... Tudo pode acontecer, a única coisa regular é que o herói narrador se mantem em seu pedestal.

As histórias em primeira pessoa são aquelas das que mais desconfio, mas escuto... Afinal, a ficção pode ser mais emocionante quando produzida ao vivo.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

É sempre o pior?


Tema: "O pior cego é aquele que amarra a própria venda"

Será mesmo que o pior cego é aquele que amarra a própria venda? Questiono mas, sinceramente, acho que pode ser o pior sim.

Se é a pessoa que amarra a própria venda, é ela mesma que não quer ver determinada situação, encarar o problema X, não é? É. E quando é assim não há santo que devolva a visão. Muitas vezes “a vendada” prefere ir, tateando, quebrar a cara, a deixar o mais próximo desamarrar a venda.

Daí eu me pergunto: é sempre tão ruim assim se fazer de bobo pra não ver? Muitas vezes é melhor abstrair, dar uma de ceguinha a ter que encarar determinadas situações. Melhor evitar a fadiga, desde que isso não se torne pretexto para sempre fugir dos problemas e responsabilidades.

É, realmente,  quase sempre o pior cego é aquele que amarra a própria venda, pois dificilmente alguém consegue fazer com que ele volte a enxergar. Mas penso além: melhor se fazer de cego por si só do que deixar que os outros façam isso pela gente.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A vida é minha - a venda também. E o resto?

  
Tema: "O pior cego é aquele que amarra a própria venda"

Uma hora a sujeira debaixo do tapete não pode mais ser escondida. Uma hora o copo transborda e a água alaga o salão. Uma hora o elefante branco começa a sambar e nos tira de dentro de casa. Uma hora nossas tentativas de ignorar o que está lá para ser visto, sentido, vivido ou doído vão serenas pelo ralo. E, mesmo assim, tem sempre aquele que amarra a própria venda, com o máximo de força - o nó apertado. Esconder de si mesmo o que já não pode ser escondido parece ser a missão suprema.

Eu estava traduzindo um livro que retrata uma personagem bem representativa disso: ela esconde a feiúra da vida, escolhe não ver, não encarar uma série de fatos bastante duros. Por um lado, não dá para dizer que amarrar a própria venda é algo criminoso porque, afinal, existe o livre-arbítrio. Por outro, isso, irremediavelmente, vai afetar a vida das outras pessoas sim, porque a gente está na vida de outras pessoas - e elas na nossa. E se elas escolhem amarrar a própria venda e isso interfere na nossa vida? Porque isso vai, irremediavelmente, acontecer também, cedo ou tarde.

A vida é minha - a venda também. Mas e o resto do mundo? Não importa? Entendo que nem sempre a gente está pronto para certas coisas, mas algumas, teremos que encarar o quanto antes, porque de repente elas podem não fazer tanta diferença na nossa vida, mas e na vida dos outros?

Tomei para mim uma nova filosofia de vida: deu vontade e não vai magoar ou incomodar ninguém, então faço e pronto. Nessa história, já mexi com meu cabelo, meu coração, minha cabeça, meus amigos. Mas depedendo do que eu escolho não ver... Bem...

Pode ser o cano do meu apartamento vazando e criando mofo no apartamento vizinho. Pode ser um relacionamento indo de pau a pique e o outro gritando: Nos salve! Pode ser um prazo estourado e as pessoas dependendo de mim. Pode ser eu mesma perdendo tantas chances, por escondê-las e entuchá-las onde puder, esquecendo que as chances que tanto pedimos nem sempre vem bontinhas em papel de carta cor-de-rosa.


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Ceguinho medroso!

Tema: "O pior cego é aquele que amarra a própria venda"

Tem gente que sempre dá um jeitinho de fugir, desviando o olhar ou fingindo que não viu. E existem também os mais ousados, que amarram a venda e se tornam além de cegos, invisíveis. Quando não se quer enxergar aquilo que está claro pra qualquer um, fica difícil enxergar aquilo que está em nós também.

Não importa o quanto as pessoas tentem lhe abrir os olhos. Quando alguém não quer enxergar, não adianta. A coisa pode estar lá piscando, laranja fluorescente, mas não adianta. Para o pobre ceguinho, simplesmente a coisa não existe.

Pobre ceguinho! Todo mundo viu, menos ele. Mas o que ninguém desconfia é que o danado viu sim! Porém, fez questão de amarrar um pano preto em seus olhos e fazer de conta que nem estava ali. Muito pior que cego, é um covarde: enxerga muito bem, mas tem medo da verdade!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Uiii...o que é isso que eu peguei?

Tema: "o pior cego é aquele que amarra a própria venda"


Existem vários tipos de cegueira na medicina, gradações, acredito eu. Pessoas que perdem 5, 50, 100% da visão.

E não consigo considerar isso nada bom. Não vejo com bons olhos nenhum tipo de cegueira física, no entanto, essa que a gente mesmo se impõe pode ter seu lado bom. Quem disse que a gente tem que ver tudo o tempo todo?

Se a gente visse tudo sobre as pessoas, por exemplo, isso seria ótimo? Ajudaria pra caramba? A gente já não julga o suficiente as pessoas que tentam mostrar o melhor de si mesmas, imagine se víssemos todos os podres?

Eu acho que às vezes a gente se faz de morto para pegar o coveiro, então também acho que a gente pode se fazer de cego e ir tateando as coisas e usando outros sentidos. Sem querer sem filosófica e nem acreditando muito em sinônimos, mas ver não quer dizer que enxergou tudo. Existe clima, vontade, luz, visão, memória...o modo como seu cérebro está coletando os dados, desculpa dizer, mas o cérebro é seletivo. Pensa bem, quando você entra num lugar, você passa um "olhar geral" mas se eu te perguntar a cor da toalha em cima da mesinha no canto esquerdo, provavelmente você não saberá responder.

Acho que o mais importante é consciência. Saber o quanto está vendo e o quanto está querendo ver. Às vezes é legal brincar de cabra-cega.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Qual o nosso limite?


Tema da semana: limitações
As limitações existem de fato, mas muitas das que nos rondam são psicológicas, coisas da nossa cabeça, monstros que criamos e com os quais devemos ter coragem de lidar.

Sei até onde vão minhas limitações e confesso que isso muitas vezes isso me atrapalha. Aliás, eu acho que sei, pois na hora do aperto a gente meio que desperta, tira força de onde não tem, faz o que acha que não conseguiria fazer, não é mesmo?

Acredito que o grande gosto está em descobrir até onde podemos chegar. Ir além daquilo que nos limita, tentar superar algumas barreiras é o que deixa a vida mais gostosa. E isso só depende da gente, com certeza.


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Pulando a muretinha ou a muralha (contanto que pule tá bom)



Tema: limitações

Tudo tem limite. Nossa paciência. Nosso amor. Nosso perdão. Talvez a paciência, o amor e o perdão não devessem ter limites, mas, por ora, somos humanos e isso explica muita coisa. Não é assim que deveria ser, mas é assim que simplesmente é.

Acho que por sermos seres humanos temos limitações sim. E a nossa vontade de sempre tentar ultrapassá-las nos faz humanos também. Essa busca pela transcendência, por tentar ir sempre além, por superação.

É bonito dizer que o céu é o limite, mas não creio que seja sempre assim. Talvez essas coisas todas na minha cabeça sejam o resultado de uma marola de melancolia, entretanto, creio que existam limites para os nossos sonhos e desejos: eu posso ir atrás o fim do mundo atrás de um sonho, mas muitas coisas estão fora do meu alcance, não estão em minhas mãos. E é aí que ficam evidentes as limitações.

Todavia, a existência de tais limitações (e das nossas próprias) não pode nos impedir de tentar, de ir atrás, de arriscar mesmo: de repente, a gente avança um pouquinho. O problema é quando a gente engessa a limitação e ela vira muleta para não fazermos nada de nada da vida e ficarmos para sempre em berço esplêndido. A limitação pode ser uma muretinha de quintal ou a Grande Muralha da China, vai depender de uma série de coisas - entre elas, como a gente enxerga.

Só é preciso tomar cuidado com as limitações que os outros nos colocam. Se tem alguém que conhece a gente é a gente. Ponto. Por isso quando o Zezinho vem dizer que você não sabe fazer isso ou aquilo... Será que ele sabe o que está falando? Claro que muitas vezes a gente mesmo não se conhece tão bem, mas aí são outros quinhentos. 

Eu passei anos ouvindo que eu não sabia fazer determinada coisa e aceitei isso, de cabeça baixa Um dia, percebi que sabia sim - ou tinha aprendido, não importa. Mas continuo ouvindo a mesma coisa. Que fazer? Simplesmente entender que os outros também têm as suas limitações.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Um feitiço contra o feiticeiro

Eu sou daquelas que acreditam que os limites existem especialmente para serem ultrapassados, vencidos, quebrados. Se há uma porta fechada na minha frente, bem na minha frente, por que não abrir e ver no que dá? Portas fechadas, pedras no caminho, ruas interditadas. Sempre haverão vários limites a espera de serem deixados pra trás.

Se são limitações de ordem social, baseada em premissas preconceituosas, racistas, machistas/feministas entre outros, o impulso para que sejam abandonadas é multiplicado por 2, porque junto com você com certeza existe outra pessoa que tem a intenção de vencê-las. E ultimamente existem mais limitações sendo esquecidas que criadas, o que favorece a luta daqueles que estão prontos para o questionamento. Numa sociedade onde não há dúvidas de que  tudo é criado, a liberdade ganha força o pensamento cria asas.

A dificuldade maior, a meu ver, está então numa outra instância, mais complexa e não menos volúvel: o interior de cada um. Aquilo que você precisa vencer dentro de você mesmo é o maior obstáculo que vai encontrar por ai. Libertar-se de si mesmo é o grande desafio. Acreditar que pode abrir a porta e querer abrí-la aceitando as conseqências que isso pode gerar é o mais perturbador. Porque sabemos lidar com limites impostos pela sociedade, desde que esses limites estejam apenas nela, mas não dentro de nós.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Eu não consigo


Tema: limitações

Quando era uma criança meiga e nem fazia idéia dos desdobramentos de uma competição_ isso lá pelos meus sete ou oito anos_ minha escola levou os alunos para comemorar o dia das crianças (ou do estudante, não me lembro bem!), numa praça pública.

Dentre as muitas atividades, eu me interessei pela corrida em redor de toda a praça, então fiquei amontoada com as outras crianças gritando “eu, eu, eu!” me voluntariei, mas a professora que recrutava não me conhecia, e como havia outra Elaine no grupo, esta foi chamada e eu entendi que eu havia sido chamada também.

Deu-se a partida. 

Não demorou nada para eu ficar comendo a poeira daqueles velocistas em potencial. E quando eu olhava para os primeiros colocados, via a outra Elaine entre eles. Como ela era veloz! Deve ter sido por isso que a professora a escolheu.

Enfim, eu que a princípio só queria me divertir, me vi numa disputa acirrada pelo PENÚLTIMO LUGAR. Mas, o mais curioso desse “doce” momento é que eu estava “focinho a focinho” com a Rosilene, uma garotinha tão frágil!

Como eu não tinha consciência de que eu poderia simplesmente parar, continuei dando o MÁXIMO de mim. Enquanto isso, mil coisas passavam pela minha cabeça:

“Por que minhas pernas não conseguiam ser tão rápidas quanto meus pensamentos?”

“Como meus coleguinhas não perdiam o fôlego se eu mesma estava quase infartando?”

“Por que diabos minha professora só ficava gritando _ vai loira?!”

(P.S: à época, eu não tinha os cabelos descoloridos, logo, a torcida não era para mim)

Sinceramente? Não me lembro se ultrapassei a Rosilene_ é sério! Mas a outra Elaine ficou em segundo lugar, disso não me esqueci. Memória seletiva?

Sei não. Só sei que foi exatamente ali naquela linha de chegada que comecei a desconfiar de que eu jamais seria uma estrela do atletismo, quanto mais uma pessoa popular!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A arte da [des]obediência

Tema: Relação chefe e subordinado.


Para mim é muito aquela questão da obediência e da sua irmã "má", a desobediência. Em primeiro lugar, é preciso saber obedecer - principalmente se um dia se quer mandar. Em segundo, é preciso saber quando desobedecer, porque ser desobediente é, por vezes, essencial.

Nem sempre o seu superior é realmente superior, ou seja, ele nem sempre sabe o que é melhor ou tem as melhores ideias ou administra bem. Isso porque, antes de ser seu chefe, ele é humano. E aí a gente já sabe como funciona.

Aconteceu certa vez de um chefe meu cometer um erro. Um erro grave. Eu e outros colegas percebemos e eu, tomando a frente, delicadamente coloquei o problema. Ele não assumiu o erro, defendeu-se como pôde e eu também não bati de frente, simplesmente mostrei o que estava errado. Ele passou algumas ordem para nossa equipe seguir com o projeto e decidimos que era hora de desobedecer. E fizemos muito bem, como sabíamos que faríamos: ele não percebeu e conseguimos livrá-lo de problemas futuros (porque inegavelmente a responsabilidade era dele e cairia sobre ele).

Independente de obedecer ou não, acredito que é sempre bom pensar sobre as ordens e tarefas que nos são dadas. Ser vaquinha de presépio é sempre um risco alto, mais alto do que escolher não fazer o que é pedido.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Já dizia o ditado. Mas existem pessoas corajosas o bastante para ignorá-lo. Cleonice jogava peteca no time dos corajosos. Chegava atrasada, saía mais cedo e nem se preocupava com as desculpas. Enrolava um pouquinho aqui e ali e terminava o dia com a faxina pela metade na casa da Dona Tereza. Na hora do almoço reclamava de tudo e sempre saía alguma coisa errada: arroz empapado, feijão salgado, bife queimado, batata encharcada. Mesmo assim ela comia. Batia aquele pratão de comida e fazia questão de escolher pra ela o maior bife.

Além de se atrapalhar na cozinha, Cleonice não gostava muito de passar roupa. Não tinha paciência com ferro a vapor. Ligava a TV e ia amassando do jeito que dava enquanto assistia a reapresentação de A Usurpadora no SBT. Já de idade e com a visão prejudicada, Dona Tereza nem percebia as marcas de varal na camisa do Osvaldo, o filho do meio solteirão que fazia companhia pra mãe em casa.

A empregada malandra também gostava muito de conversar. Sentava na sala com as visitas e ficava por lá comentando sobre as novelas enquanto a Dona Tereza ia até a cozinha buscar o café para servi-las. Quando Osvaldo chegava do trabalho ela o enchia de perguntas sem antes se esquecer de caprichar no batom e retocar o perfume, já que o solteirão era bem bonitão e precisaria de companhia assim que a velha batesse as botas. Cleonice, esperta como ela só, vivia de olho no bom partido.

Um dia Dona Tereza se animou e resolveu consultar o oftalmologista. Voltou pra casa de óculos novos e enxergando cada marca nas camisas de Osvaldo, inclusive uma de batom cobre - exatamente aquele que Cleonice usava. Sentou à mesa pra almoçar e assim que a empregada lhe serviu um bife duro e com gosto de queimado, ela não perdeu tempo. Mandou a folgada ir pra casa assistir a novela, sem esquecer de avisar que não precisava mais voltar.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sob um leve desespero

Sob um leve desepero/ Que me leva, que me leva daqui, canta o Dinho Ouro Preto e eu pergunto:

- Para onde o desespero nos leva?

É um lugar frio, escuro e úmido, onde parece que não há solução para nada. Ora, nada é tão definitivo que não possa ser alterado, ainda que com muito algum esforço. E pode dar trabalho sair de um buraco desses. Mas é aquele história: é bom chegar oa fundo do poço, porque uma hora se tem que subir.

Olhei para dentro de mim e para minha história e vi nunca ter tido motivo para desespero. Não motivos razoáveis talvez. Bom, não ter um motivo não quer dizer não ter sentido (significado e sentimento), porque falar sobre motivos e razões é racionalizar uma coisa que foge dessa alçada, mas não do nosso controle. E se fugir do nosso controle? Aí é o caso de pedir ajuda. Acho que cada um sabe de si, cada um sabe onde a corda arrebenta, do seu limite. 

Uma pessoa muito querida minha morou fora do país por um ano e, nesse meio tempo, entrou em crise existencial. Mas uma crise existrencial das fortes que eu nunca tinha visto. Aí veio o seu desespero. E, na cola, o meu. Precisei guardar o meu, à sete chaves, a fim de que pudesse ajudá-la de algum modo. Ou ao menos tentar. 

Até hoje, eu nem sei se fez alguma diferença afinal. Se não fez diferença para ele, fez para mim, porque eu tive que aprender a me controlar, a respirar fundo, a lidar com emoções fortes se quisesse tentar fazer alguma coisa.

O desespero é a falta de esperança, essa coisa tão sagrada. Acho que as pessoas abraçam o desespero quando não têm mais nada - ou quando assim o acreditam. O desespero é crer que não há mais nada em que se crer.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

No escuro

Acho muito perigoso qualquer tipo de coisa que nos rouba a consciência. É claro que às vezes bate uma vontade louca de perdê-la mesmo, nem que seja pelo menos por algumas horas. Mas é um jogo perigoso. E o desespero faz isso com a gente. Ele nos cega, nos faz perder os sentidos e não conseguimos ouvir nada além da sua voz irritante que parece nos empurrar ao abismo mais próximo.

Desesperados, nenhuma solução parece possível. Nada existe além do problema que nos traz o desespero. E o pior: há uma chance mínima, quase nula, de no final das contas tomarmos uma decisão satisfatória. Geralmente, no desespero, fazemos alguma cagada. E daquelas que não podem ser consertadas.

E nem adianta eu falar aqui sobre ficar calmo, respirar, contar até dez ou sugerir algum mantra tranquilizante. O desepero comanda tudo. Se chegou a deixar ele entrar na sua cabeça, já era. A única solução é torcer pra que, de alguma forma, tudo termine bem. Uma questão de sorte, porque o desesperado não tem nada o que fazer e mesmo se tivesse, não conseguiria, porque nessas horas ninguém sabe muito bem o que está fazendo.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Publicitário: Oi, meu nome é desespero

Desespero é o que os publicitários sentem todos os dias quando recebem briefings mal feitos, prazos inexistentens, clientes quadrados e pedidos descabidos.

Hoje é o dia dos Publicitários, parabéns pela criatividade!