domingo, 25 de março de 2012

Vencedores da Idade

Tema da semana: Terceira Idade 

Eu sempre tive muito gosto em lidar com gente idosa. Embora minha paciência não seja das maiores, e as vezes eu precise de um tempo ausente para recarregar as energias, eu acho os idosos sempre bonitinhos, sempre com cara de gente que já cansou desse mundo, que já viu de tudo e ainda assim tem coragem pra continuar; enquanto eu, que não vi metade, vivo querendo abortar a missão... 

Há alguns anos atrás tive minha primeira grande decepção vinda de gente velhinha, minha mãe aproveitou a oportunidade e me disse: “gente ruim também envelhece, minha filha”. Desde então olho com um pouco mais de crítica essas pessoas tão simpáticas, mas confesso que dificilmente encontro algum que não ache fácil de amar.

Uma das idosas que tem residência fixa no meu coração, é uma das pessoas mais difíceis que já conheci nessa vida, mas ela já não é tão difícil quanto já foi... Tenho visto que as marcas do tempo fazem dela uma pessoa melhor, que o coração dela tem estado mais aberto, que o orgulho de omitir os erros deu lugar a uma vontade imensa de compartilhar a experiência... Ela não perde tempo com as pequenezas que ocupam o tempo de muita gente nova, com o que os outros vão pensar, por exemplo. 

Conheci outros idosos tão exemplares quanto ela, ou até mais. Não convivi com nenhum idoso cuja experiência eu pudesse desprezar, até o senhor malvado que envelheceu, me ensinou muita coisa... E se tem gente que vira as costas pra quem envelheceu, porque acha que são “estorvos”, é dessa gente que eu quero fugir... Talvez essas pessoas toscas envelheçam e saibam ver a vida de outra maneira... Mas enquanto agirem assim, são estorvos pra mim, pois me lembram que o mundo não é um mar de rosas, de gente com coração grande e coisas legais pra ensinar.


“Olha estas velhas árvores, mais belas

Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas... ”



sexta-feira, 23 de março de 2012

Contra o tempo

 * Contém spoilers

Não, não é sobre aquele filme recente e interessante estrelando Jake Gyllenhaal. E a ideia não é nobre como salvar um trem de um maluco. Mas é sobre como eu tento lutra contra o tempo - ou em render a ele?

Não é sobre envelhecer, mas essa semana, parece que se foram uns dez anos - embora eu tenha feito vinte e cinco na semana passada. Corro sempre, mas corri muito mais do que o normal. E, mais uma vez, esbarrei com pilhas de livros que nunca vou ler e coisas que nunca vou fazer - por falta de tempo.

Acredito que, em geral, a gente arranja um tempo quando realmente quer, salvo exceções não tão raras. Mas o fato é que essa semana, me vi totalmente acuada por inúmeras tarefas. Nem sempre é uma questão de organização, como as pessoas tanto insistem. É uma questão de falta de sono - não porque o sono falte, coisa mais abundante, mas porque não há tempo para se dormir adequadamente.

E eu nem entendo porque me canso desse jeito: não trabalho taaaanto assim, mas acho que me falta tempo para as outras coisas. Sim, as outras coisas, aquelas que te distraem do resto - quando tudo parece um ldifícil, como foi essa semana.

Me dói perceber que as minhas escolhas, de um modo ou de outro, acabaram me trazendo onde estou: dois empregos e trabalho voluntário ocasional, com mais uma pós-graduação pela frente. Bah! Grande coisa... Tem gente que faz muito mais do que eu e consegue arranjar tempo e viver melhot. Bom, vai ver que o lance é a organização mesmo oras...

Estaria eu numa crise temporal? Se for assim, perfeito: temporal desaba e logo acaba - dura pouco. Pior fosse uma crise atemporal.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Tic-Tac





O tempo anda acelerado. Tudo passa rápido, principalmente as noites - cada vez mais curtas. Não sobra tempo pra nada. O dia passa num piscar de olhos. A semana voa. São vários os dias em que eu imploro por mais algumas horas, porque o dia já está terminando e ainda restam coisas a se fazer. Quando se dá conta, já é quinta-feira e... oh! é hoje meu dia de escrever no meninas!

O tempo está acelerado, ou nós que corremos contra ele? O tempo, esse maravilhoso, é o mesmo desde que o inventaram. Nós é que vivemos nos reinventando. Correndo pra não chegar atrasada, torcendo pra dar a hora. Esse impasse entre o nosso tempo e o relógio é coisa desses novos tempos.

E eu fico aqui querendo acertar o meu relógio com o seu. Te esperando, em todos os momentos.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Oi, fala rápido

Oi, fala rápido, to com pressa. Não, não tenho tempo. Sei que você acha que é uma questão de prioridades, nem é, mas se acha assim a questão é que tem prioridades de mais para tempo de menos. Claro que é bom o tempo que passo com você, só não to com esse tempo que você quer. Tempo para entender que você precisa de mais tempo comigo, com a gente. Me empresta um pouco desse tempo que te sobra? Sim, eu estou ansiosa e se fico balançando a perna é porque toda essa discussão é uma perda de tempo que aliás e já disse, não tenho. Vi, vi que estou sendo repetitiva. É que compromissos são assim, martelam, tictaqueiam que já passou da hora. Gosto sim, gosto de ouvir sua voz, mas... faz favor? Na próxima faz um roteirinho, uma pauta, que é para a gente otimizar a conversa e economizar... tempo.

 

sexta-feira, 16 de março de 2012

Amor

Primeiro, foi a mão dela que ele precisou. Depois o braço e um pé (para pisar firme) e eis que ela passou a mancar. Depois veio o rim, um pulmão, seus ouvidos, o coração. E ele, que era vazio, logo foi preenchido de tudo aquilo que ela possuia. E ela foi se esvaziando, mal parava em pé.

Ela sabia, como ninguém, viver de migalhas. E ele, só sabia da abundância. Ele não sabia dar e ela não sabia receber.

Ela se desprendia de tudo com uma facilidade notável e assustadora. O golpe final veio quando cortou seus longos e belos cabelos para vendê-los, pois ele precisava de dinheiro.

Quando ele a deixou, percebeu que ele tinha levado também seus intestinos e ela já não podia se livrar das fezes que foram se acumulando em seu ventre. Já não podia se livrar das coisas ruins, da sua mágoa, da sua raiva, da sua tristeza.

Meio morta, a moça zumbi, cansou da descrença que corroía as suas pernas como grangrena. Numa bela tarde de sol, livrou-se do resto, do pouco que sobrara: entregou seus destroços aos cachorros da rua em que ele morava.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Uma dose, por favor!




Vivo falando com as meninas sobre as dificuldades de saber a dose certa. Acertar a receita entre dar liberdade ao outro e proteção ao mesmo tempo sem que o relacionamento se torne algo sufocante ou simplesmente se desmanche, é difícil. Saber até que ponto você pode entrar na vida do outro e qual é o momento exato de parar e preocupar-se mais com a sua vida é um desafio. Acho que é uma coisa que vai se aprendendo. A gente vai sentindo e vai levando. Errando e acertando. E vice-versa.

Talvez seja mais fácil começar com essa simples e muito útil noção: a de que se trata de outra pessoa. Amada, desejada, idolatrada, admirada, desejada, adorada. Mas outra pessoa. Que possui outra vida, diferente da sua. E então tomar conta da sua vida e deixar que o outro tome conta da dele pode ser um bom começo pra que essas duas pessoas queiram sempre fazer parte uma da vida da outra. Que tal? E é bom também nunca se esquecer que amar pode ser sinônimo de cuidar, mas nunca será sinônimo de dominar. 

quarta-feira, 14 de março de 2012

Deixa disso!

Porque tem coisa que é assim, se você puxa pra cima mostra bunda, se puxa pra baixo mostra os peitos. Relacionamento pode ser mesmo um vestido tubinho 96% viscose 4% elastano.

 

Você acha que é uma boa ideia. Veste, tira, veste, tira, muda os acessórios: agora vai! Tô linda, você sussurra em frente ao espelho.

Daí você vai pra rua e quando passa na frente do primeiro espelho e se vê refletida, pronto, em um instante você percebe que nunca esteve tão mal acompanhada. Você acha que aquilo é pra levar pra vida toda, mas nunca esteve mais errada. Todos que a olham dizem: 'lá vai uma pobre infeliz'.

Porque tem gente que é assim, tem tudo para ser bom, mas quando você percebe vê que aquilo não tem nada a ver com você.

 

terça-feira, 13 de março de 2012

Em nome do amor




Ela o amava. Ele talvez. Ela o viu. Ele mais além.
Então quis ficar. Mas com ela já não podia. 
Agora que também se amava, outros amores ela queria.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Quem ama o feio, bonito lhe parece.

Tema: O que é Bonito - Lenine




Eu gosto é do inacabado
O imperfeito, o estragado que dançou
O que dançou...


A beleza está entre esses tantos aspectos da sociedade que sofreram diversas transformações ao longo dos anos e se encontram condicionados às influências midiáticas tão ferozes da pós-modernidade. É engraçado que no meio de tamanha diversidade do ser humano, seja eleito um único padrão de beleza e que as pessoas se reinventem todos os dias, a fim de seguir esse padrão. Não se trata apenas de uma questão de moda, tendências, estilo. Ser belo hoje se reduz a um formato pré-estabelecido que reina absoluto e exclui todas as outras possibilidades.

A maioria das pessoas corre atrás de um ideal de beleza que é no mínimo injusto com a humanidade e faz com que, de quebra, tudo o que estiver fora desse padrão seja rotulado como feio. Dessa forma, nos esquecemos de uma coisa simples, porém indiscutível: gosto é igual *, cada um tem o seu. É horrível admitir isso, mas até o gosto das pessoas acaba sendo influenciado por padrões criados pela mídia. De quem é a culpa? Será que somos tão ignorantes a ponto de aceitar e incorporar tudo o que nos é transmitido pela mídia?

Os conceitos de beleza ou feiura deveriam ser valores individuais e não compartilhados com pessoas que, no limite, são diferentes e, portanto, têm o direito de pensar de formas diferentes. Quem ama o feio, bonito lhe parece é a síntese cruel de que estamos presos a uma condição que não nos dá o direito de ao menos opinar sobre o que nos agrada esteticamente ou não. E nos livrar dessa condição é um trabalho de no mínimo, mais algumas centenas de anos. Não sei se tenho esperanças. É por isso que nos resta deixar de priorizar a estética e tentar cada vez mais cultivar a valorização da beleza subjetiva dos homens e de todas as outras coisas.

terça-feira, 6 de março de 2012

"Não era belo, mas mesmo assim..."



Alto demais, cabelos amassados, orelhas “de abano”, queixo exagerado. Nada do programado.

Por isso, aos amigos, só destacava os lindos olhos cor de mel que ele tinha. Afinal, eles esperavam dela o mesmo padrão deles.

Mas, entre os beijos mais doces, as juras mais melodiosas, e o toque mais singelo desse novo amor, entendeu que a beleza não estava apenas nos olhos dele, mas nos dela.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Nos olhos de quem vê

Tema: "O que é bonito" - Lenine



Cada um tem sua opinião do que é bonito ou feio, mas, não sei por que, não estamos acostumados a seguir nossa própria concepção. Tendemos sempre a nos preocupar, ou pelo menos escutar o que o outro tem a dizer sobre beleza. De tempos em tempos o ideal de beleza muda e nos pressiona a mudar também. Tudo vai ficando artificial a meu ver, inevitavelmente seguimos coisas nas quais não acreditamos, mas, por sorte, ainda consigo alguma beleza à minha maneira.

Não vejo beleza em contos de fada, vejo beleza em duas pessoas que se gostam, brigam e superam tudo juntas, sem felizes para sempre, porque isso não seria belo e, sim, monótono. Vejo beleza em pessoas naturais, espontâneas, não em pessoas com o rosto simétrico e cintura de violão. Reparo muito mais em pequenos gestos no dia-a-dia do que em atos heroicos que ocorrem uma vez na vida. Não vejo beleza em traços, vejo beleza em atitudes, em espíritos.

sábado, 3 de março de 2012

Não sou boa nisso

                                                Tema da semana: Quem conta um conto aumenta um ponto


Não gosto dessa história de aumentar um ponto. Mas se eu disser que nunca fiz nada do tipo estarei também aumentando um ponto (rs).

Fico me perguntando frequentemente por qual motivo as pessoas costumam mentir e, sinceramente, é uma questão muito ampla. Aumentam um ponto pra contar vantagem, aumentam para se livrar de determinada situação, por exemplo.

Não consigo ver mal algum naquelas pessoas que aumentam um ponto e não prejudicam ninguém, o fazem para tornar uma história mais legal, para chamar atenção. Acontece que isso é chato se for feito com frequência. Deve ser um saco ser conhecido como aquele que conta vantagem em suas histórias. Melhor se conter às vezes.

Também não consigo ver muito problema nessa história de contar um conto e aumentar um ponto se a mentira contada só trouxer prejuízo a quem conta. O problema maior, na minha opinião, é quando a pessoa que aumenta resolve fazer isso com a gente, aumentar pra prejudicar o outro, aí a coisa fica feia. Não tem nada de divertido nisso, não é mesmo?

Eu sou ruim em contar um conto, pior ainda pra aumentar um ponto. Confesso, sou péssima com mentiras, sejam elas grandes ou pequenas, e não sei até onde isso é bom ou é ruim.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Um toque pessoal

Tema: Quem conta um conto aumenta um ponto


Porque às vezes eu me pego prendendo a língua assim para não passar a fofoca pra frente - principalmente no serviço. Tem coisas que dão um comichão e é dífícil segurar as pontas, principalmente quando eu adoro narrar histórias e dramatizar - propositalmente - pequenos fatos cotidianos.

Pensando assim, fica difícil fofocar repassar a informação de modo neutro, porque a gente sempre vai colocar um toque nosso, um comentário maldoso, uma suposição razoável... sempre alguma coisa a mais na história - e aí vai o nosso ponto. Se os jornalistas que, supostamente, deveriam ser neutros ao contar os fatos não são, como nós, reles mortais, seríamos?

Sempre que eu ouço "quem conta um conto aumenta um ponto", lembro do o primeiro cachecol que fiz de crochê: por inexperiência, fui aumentando pontos aleatoriamente, sem me dar conta e acabei ficando com um pequeno monstro de lã. Não aquilo não era um cachecol: era tão imperfeito quanto um caxecol*.

Eu devia ter uns oito anos, mas sabia o que fazer: puxei delicadamente o fio e desfiz tudo o que havia feito. Sorri satisfeita e recomecei meu trabalho, desta vez com mais atenção, mas não com mais perícia.

O mesmo não podemos fazer com os pontos que aumentamos: desfazer nem sempre está dentro das possibilidades nossas de cada dia. E se o impulso é colocar um pouquinho de nossos achismos e impressões naquilo que contamos, principalmente sobre os outros, trama pode ficar mais apertada ainda. E a saia pode ficar justa.

* escrevi com "x" de propósito (!)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Nelson Rubens do meu coração

Tema: Quem conta um conto aumenta um ponto






Eu conheço um cara* que é bem assim, estilo Nelson Rubens: aumenta, mas não inventa. Ele é o cara das histórias. Aquele que tem sempre um bom papo, um bom caso pra contar numa roda de amigos. Baseadas em fatos reais, vividas por ele ou por algum amigo, suas histórias são sempre recheadas de emoção, suspense e aventura. Ele vai narrando e ficam todos ao seu redor, atentos, visualizando as cenas e esperando ansiosos pelo desfecho.

O negócio é que ele sempre aumenta uma coisinha aqui ou ali. Com um detalhe ou outro ele vai moldando as histórias e deixando-as ainda mais interessantes. E faz tanto sucesso, que alguns casos são pedidos pelos amigos nos churrascos e butecos: conta aquela do cara que foi almoçar na casa da namorada! E lá vai o sujeito narrar com empogação os grandes feitos de seus grandes amigos ou ainda, de amigos dos seus amigos.

No fundo, todo mundo sabe que o exagero é algo peculiar à sua personalidade. Mas quem liga pra isso? Alguns, certos de que existe algum ponto a mais na história, se colocam a imaginar qual seria a informação extra, vinda de sua imaginação. Outros chegam a duvidar de certos fatos, mas não há quem resista a dar boas risadas com suas histórias.

* Esse cara é o Pablo Osório, meu namorado. Às vezes ele me irrita com essa de "eu aumento, mas não invento", mas eu preciso confessar que suas histórias são mesmo irresistíveis.