sexta-feira, 1 de abril de 2011

Maria Rosa, de carne e osso

Maria Rosa* é uma mulher comum. Não é uma heroína da história, uma militante ou grande escritora. Maria Rosa foi uma professora muito querida que conheci em 2007.

Me lembro de ouvi-la contando como ficava dentro do carro, no estacionamento da faculdade. Chorando. Foram meses a fio assim. O filho era pequeno na época e o marido a tinha deixado. Ela ficou sem chão e sem casa. Sim, a casa que tinham construído com o dinheiro dela tinha ficado com ele por algum motivo do qual não me recordo. Foi essa a época em que estava terminando o mestrado e que perdeu dois alunos queridos. Suicidaram-se. 

Ela conta sem rancor, mágoa, raiva, só com tranquilidade. Sem se vitimar, só fala como alguém que viveu várias coisas e que lidou com elas como pôde: como um ser humano bom. Sua bondade foi posta a prova tantas vezes, seu caráter, suas crenças. O suicídio de seus alunos e sua perda de rumo fizeram-na começar a buscar. Mas buscar o quê? Queria entender, só entender. Resolveu estudar Teologia e isso foi determinante para ela. Acho que percebeu que já conhecia Deus e não tinha se dado conta.

Maria Rosa estava superando a depressão de anos, tomava os seus remédios. Quando a conheci era uma senhora amorosa e dedicada. Gosto de pensar em Maria Rosa porque é alguém próxima, de carne e osso e abraço. Sempre hesito em me espelhar em pessoas muitíssimas vezes melhores do que eu, pois parece que nunca vou chegar lá onde estão. Mas Maria Rosa está próxima. Conheço seu trajeto, sua história, sua casa, seus livros de Filologia e os pequenos elefantes que decoram sua sala, junto ao piano. Ela tem um ar de vovó sábia: sempre com um bom conselho e uma boa xícara de chá.

Talvez ela esteja longe das outras personalidades femininas aqui apresentadas ao longo dessa semana, mas Maria Rosa conseguiu tocar todos aqueles que passaram pelo seu caminho. Eu poderia pensar que ela apenas superou seus dramas pessoais, mas quantos de nós conseguem fazer isso e ser bem resolvidos como ela?

Ela marcou e marca aqueles a sua volta e sempre traz uma mensagem de amor, bondade e respeito, além de um respeito infinito pelo ser humano. Seu mundo desabou um dia e ela pôde reconstruí-lo, aos poucos. Seja como for, ela me motiva a seguir em frente, a buscar o que quero, a me superar. Sempre. Gosto das heroínas do dia-a-dia: me fazem sentir mais forte do que as dos livros e da história. Quando desanimo, é em Maria Rosa que penso e é ela que me faz redobrar o fôlego e tocar a canoa.

* nome fictício

3 comentários:

Daiany Maia disse...

Também gosto de heroínas assim. A figura do professor é algo que deixa marcas. Por causa de alguns tomei rumos diferentes.

Me lembro até hoje quando, na primeira série, uma professora me deu uma caixa de lápis de cor porque achava que eu desenhava bem. Naquela época caixa de lápis de cor de 12 cores era um luxo. Um luxo que minha mãe não podia pagar. Pra mim foi um sonho, então.

Darei aula e espero conseguir ser tão positiva quanto alguns professores foram pra mim. Espero ser uma Maria Rosa também.

beijo

Elaine Gaissler disse...

E superar os próprios conflitos já é muito mesmo, porque todos os temos...

Ana B. disse...

Dá vergonha, né? A gt desanima por tão pouco, reclama por menos ainda... Enquanto sempre existem mulheres como Maria Rosa e Dona MAriquita, que seguem em frente, superam adversidades e fazem o que tem que ser feito.
São exemplo, com ctz.