quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Professor não ganha mal!

Eu pretendia fazer um texto mais impessoal, uma coisa mais pomposa e tal. Mas não me contive. Educação é um tema que mexe comigo e que eu tenho alguns conceitos definidos e, sim senhores, me desculpem quem não concorda, mas no Brasil, o professor não é mal remunerado.

Isso mesmo: não é. Algumas pessoas, poucas, ganham bem. A grande maioria restante ganha mal, e muito mal. Se eu acho que o professor deveria ganhar melhor? Claro que sim, mas também acho que os vendedores deveriam ganhar mais, os garis, as faxineiras, e etc. O que quero dizer então? Que no Brasil o professor não ganha mal, o povo, como um todo, ganha mal.

A educação é outro daqueles temas dúbios aqui no Brasil. É como esse feminismo de araque, muito vigente hoje em dia: na hora de sair todas as noites, beijar cinco caras diferentes, a mulher quer ser igual ao homem (como se fosse alguma vantagem relacionamento por atacado) mas na hora de dividir a conta, por exemplo, voltam ao tempo da vovozinha. Então, com a educação é a mesma coisa, uma grande e boa parcela saca do bolso uma espécie de socialismo dizendo que todos deveriam ter acesso a tudo, praticamente repudiando o direito a propriedade (do outro claro, porque as dele ninguém coloca a mão), mas quando é falado sobre remuneração mais igualitária, aí não. Aí todo mundo quer a lasca que lhe pertence.

Mas como medir certas coisas? Baseado em que podemos dizer que o serviço do professor é mais vital que a de um gari? Certos paradoxos precisam ser pensados.

Todavia, há quem possa dizer: “mas o professor tem que ganhar mais porque o que ele é obrigado a aguentar na escola não é fácil”, isso é uma balela. A ideia está errada, não era para o professor aguentar nada. A função do professor, resumidamente falando, é ser um mediador do conhecimento. Não um saco de pancada, um “mãe” substituto ou um orelhão-vaso sanitário que o aluno vem e despeja tudo o que quer. O professor está ali para ensinar, transmitir e aprender coisas. Dizer que o professor tem que ganhar mais pelo que ‘sofre’ na escola é, primeiro, afirmar e confirmar que a educação está uma porcaria mesmo então vamos tapar o buraco com um salário melhor e/ou, segundo, seguir pela lógica besta que dá pra recompensar financeiramente algo que tem a ver com autoestima, valor, respeito e cidadania. Salvo proporções, defender que professor deve ganhar mais porque ‘sofre’ na escola seria o mesmo que aumentar o piso salarial de vendedores de calçados porque eles aguentam ‘chulé’.

A licenciatura, como outras profissões, são optativas. A pessoa não deveria escolher o curso pela mensalidade que cabe no bolso dela. O que acontece é que mais pessoas se formam naquilo que não gostam, achando que ter uma graduação é suficiente para garantir o padrão de vida que almejam, e quando percebem que a realidade é outra, se sentem no direito de não dar aula direito porque afinal “esses alunos são muito burro, e eu não sou obrigada a educar marmanjo”.

Se dependesse da atuação de muitos (muuitos mesmo) professores em sala de aula, o salário da classe seria diminuído.

11 comentários:

Ana Kazan disse...

Dai, muito legal sua clareza sobre a dubiedade cultural nossa! Muito bom mesmo. Certíssimo de que todo mundo deveria ganhar mais, não apenas professores.

Onde talvez eu gostaria de colocar algo está na justificativa presumida de que professor deve ganhar mais porque tem que "aguentar" muito em sala de aula. Isso é algum argumento de algum professor educado nos arrabaldes do ensino.

Não. Professor tem que ganhar bem (não mais que ninguém com o mesmo tempo de estudo, experiência, etc.) porque sua função - a de educar - é tão extremamente, magnificamente importante para o desenvolvimento do País.
Vê, só com mentes críticas e educadas como a sua se multiplicando pelo Brasil é que poderemos ter esperança de que um dia não precisaremos engolir essa cafagestada toda que semi-analfabetos auto-jactantes fizeram, fazem e (espero que não) continuam fazendo no poder.
"Só" porisso deve-se procurar garantir que professor tem uma remuneração digna, para que mais daqueles com vocação real para ensinar, mas com necessidade de viver com dignidade e comer, não escolham outras profissões que pagam melhor, abandonando o que seria uma carreira que faria muita - toda - a diferença para o Brasil.
Obrigada por escrever,
Sempre.
Ana

Daniel Savio disse...

Realmente é algo pensar, mas se não fosse feito uma compensação financeira, pelo menos um compensação moral, como por exemplo, mais respeito ao mestre...

Fique com Deus, menina Dai.
Um abraço.

Anônimo disse...

Eita laiá! Soltem os cachorros...rsrs

Muito bem colocada suas opiniões Dai, sou obrigada a concordar depois de seus argumentos.

Bjo bjo
Larissa

Obs: "menina Dai", ai ai ai, não aguento!!! rsrsrs

Het disse...

Parta do princípio que só a educação liberta, ela dá visão crítica e faz com que as pessoas tirem suas próprias conclusões, evitando que sejam facilmente manipuladas.

A educação antes de mais nada é o que garante cidadania, respeito e civilidade às pessoas, não o posto de saúde, a delegacia ou muito dinheiro.

Vivemos numa sociedade onde quem ganha mais é o melhor, e não aprendemos valores básicos de respeito ao próximo, seja em casa ou seja na escola.

Se hoje, os professores são uns verdadeiros parasitas públicos ou privados é porque no passado alguém deixou de investir em educação, e formou professores sem desejo, sem brio.

Para alguns, os salários que ganham é muito, pelo descaso, estes não são professores.

Incentivar as pessoas a serem professores através de melhores salários, também é um erro.

No entanto, o problema é que aqueles que querem ser, ou são, mas estão sendo assediados por um mercado privado que paga mais, seja pra dar treinamentos, seja para trabalhar na area, tira as melhores mentes desse posto importantíssimo para o progresso.

Vivemos num mundo capitalista, não podemos julgar esse tipo de atitude como sendo certa ou errada, só que acontece é que a educação está de lado.



Ser lixeiro qualquer um pode ser, ser professor, não. O respeito deve ser o mesmo, mas não confunda respeito com progresso.


No dia que algum candidato a presidente falar que vai voltar todos os esforços e verbas pra educação, tem o meu voto.
Depois disso, as pessoas terão ferramentas pra fazer o que quiser da vida, e terão, inclusive, capacidade cívica e intelectual de não jogar lixo na rua, ou separar o lixo organico por conta própria.

Bolsoni disse...

Olá Dai. Suponho que você também seja graduanda e futura professora. Assim como eu...rs
Eu concordo com alguns argumentos seus, como o do aumento salarial, não só para professores, como também de toda a classe trabalhadora.

Mas, talvez investido de uma defesa de minha própria futura classe, eu acho sim que o professor faz jus a um salário maior. Não por "ter que aguentar uma sala" ou "por ser obrigado a educar marmanjo". Esses fatos são inerentes à profissão e, assim como vc disse, todos que entram nessa graduação sabem disso. Nós merecemos um salário melhor porque somos responsáveis pela formação (boa ou má)de futuros cidadãos. Quer dizer, todos aqueles que irão 'fazer o futuro' do nosso país passam pelas nossas mãos. Isso é uma responsabilidade e tanto. Um salário melhor, ao meu ver, evitaria que muitos professores se desiludissem em sua profissão, e fizessem da aula apenas um passa tempo, onde eles fingem que ensinam, e os alunos fingem que aprendem. A utopia de melhorar a educação move alguns jovens formandos, mas não dura para sempre. A motivação tem que ser renovada, e acredito que um salário melhor evitaria muitas aulas da forma que a vemos hoje.

Desculpe a discordância.
Abraços!

disse...

Concordo basicamente com o que o het disse e sem maiores delongas acrescentaria que o professor executa uma função estratégica para mudanças sociais. Isso deve ser levado em conta.
Daí não é só melhorar os salários, é acertar a estratégia

Anônimo disse...

Realmente, o fato de toda a classe de trabalhadores estarem ganhando mal é evidente, porém, não concordo que comparar uma profissão de lixeiro e vendedor com a de um professor é válida. A questão é que o professor pode ser considerado uma ''engrenagem'' para a sociedade, são os professores que formam cidadãos que atuaram futuramente na sociedade. Quero muito ser professor e em função disso disponho de conversas com vários professores e professoras a respeito de tal assunto e no geral o que vejo é a falta de motivação profissional, moral e pessoal.
Alem do fato de estarem sendo super mal remunerados, o sistema atual de educação, tal sistema em que os alunos tem o 'senso' de critica desenvolvido não faz juz ao que diz respeito em qualidade de educação relacionada ao método tradicional de ensino, no meu ver claro. A atualização em métodos de ensino trouxeram novas perspectivas aos alunos e professores, claro, mas fez com que o prestigio de o professor ser o mestre em sala de aula fosse deixado de lado, assim como o nosso amigo citou em cima, a moral debilitada desses profissionais ficam manchadas, e com isso vem como consequências as desilusões profissionais e pessoas. Relevando a causa de relacionar alguns cargos como o de gari e de vendedor com o de professor, eu deixo a questão: quantos anos é preciso para formar um professor experiente com uma didática e formação academica (graduação, pós, mestrado,doutorado, outros cursos superiores)e a importância deles na sociedade? E agora a mesma pergunta é feita para o cargo de gari e vendedor. Deixo bem claro que o objetivo não é subjulgar nenhuma profissão, mas sim especifica-las, por mais que não seja ''bonito'' dizer isso, seriamos totalmente hipócritas não aceitando...

fica a questão para debate...

Unknown disse...

" o povo, como um todo, ganham mal"

A palavra 'povo' está no singular. O povo GANHA mal. Não 'ganham'. E depois vem querer falar de educação.. A educação no Brasil é mais ou menos isso aí.

Daiany Maia disse...

Paulinha,

Realmente esse aí eu deixei passar, mas como você pode ver, ninguém tinha comentado sobre isso porque o ponto da discussão nem era esse.

Se o problema da educação fosse uma concordância gramatical, estaríamos bem.

Abs,

obs.: corrigi lá para que agora fique mais fácil se ater ao tema.

Daiany Maia disse...

Gostei muitíssimo da repercussão do texto. É uma discussão muito ampla que um texto curto e pouco aprofundado como esse não solucionaria, aliás, nem era a pretensão.

O que, em suma, eu quis dizer com o texto é que o professor ganha mal porque no Brasil as pessoas (agora sim) GANHAM mal. Acho que o professor deveria ganhar melhor sim e que ele é parte essencial da sociedade. Boa parte da formação é responsabilidade dele, mas a grande parte é responsabilidade da família. O que hoje pouco ocorre.


Eu agradeço a todos que leram e também comentaram, a Educação deveria sempre ser objeto de questionamento.

obrigada,

Dai

zaleski disse...

a vaidade é uma coisa engraçada...

uma perde tempo pra apontar o erro alheio (deve ser Phd na Cambridge ), a autora então mete pedrada, porque não gostou de que apontasse seu erro (que não é o fim do mundo aliás).

no final nóis continua ganhando mal..