Tema da semana: desejo
Na esperança de se tornar mais humana, ela fez um curso de
Humanas e passou a graduação se deleitando com Foucault. Curtiu aquela
coisa de relações de poder e quis brincar também, entrar na roda -
embora ela já devesse estar cirandando sem saber, como tantas vezes fazemos.
Se
formou e a vida na mesma. Um dia, porém, descobriu-se interessante. Se olhou
no espelho: poxa, nem era tudo aquilo. Mas então porque os homens
paravam para vê-la passar? Era alguma outra coisa que ela tinha, mas não
sabia[m] dizer o que era. Todavia, nunca fora muito de explicações ou
reflexões. Resolveu esquecer que já tivera um coração e foi colocando-os
na roda. Quisa saber quem sabia dançar no seu passo.
Foi aos poucos se descobrindo - e descobrindo seu corpo de tecido e pudores. Seus amigos jogavam War e ela jogando outro jogo já - que tinha um pouco de belicismo de qualquer modo. Sadismo declarado e sincero e honesto. Tinha talento para tânatos. E as suas mãos, a sua boca, o seu corpo tinham uma vocação para o prazer.
Era aquele incandescência tomando conta de tudo. Primeiro, decidira ser feliz por birra, por vingança, para contrariar as probabilidades. Depois, foi feliz sem raiva, por aquela sua transbordância de pernas e cabelos. As costas, nuas. A pinta na nuca que adorava ser beijada. Suavemente. Seu jeito de deixá-los desejantes com um simples olhar naquele rosto de santa sem pretensões. As suas eram todas, mas fingia, brincava.
E tinha umas coisas que ela bem sabia fazer. Muitas coisas na verdade. Mas deixava tudo semi-velado. Luz de velas. Aquele jogo entre o que mostrar e o que esconder. Conduzia-os para as sombras e dele fazia o que queria. Isso quando e se queria. Porque na maior parte do tempo, provocava. Zombava. Por essa época, aprendeu a brincar de esfínge: Decifra-me ou devoro-te. Acabaria sempre em canibalismo.
Mais prazer do que os gritos roucos colhidos entre quatro paredes e o olhar ébrio de seus escassos amantes, só mesmo quando se mostrava inatingível para os que não quisesse. E eram muitos. Arrumava-se para eles, vestia-se para eles, para que a desejassem como bem o sabia fazer. E não precisava de muito. De quase nada, na verdade.
E os seus olhos de ressaca, cuja crueldade era a de uma criança, diziam com ternura:
- Olhe mesmo, olhe bem, pode olhar: não vai nunca passar disso.
5 comentários:
Olhos de ressaca? Rs...
Essa aí brinca com o desejo mesmo. E com fogo também. Ai de quem não sabe brincar e se atreve a entrar nessa roda...
;)
Olhar, War......só boas lembranças.
O probrema dos jogos é sempre o mesmo. Quando pensamos que estamos dominando, aparece um novo jogador e nos leva todas as fichas.
bjo
é um conto, e como um conto, tá lindo.
mas se fosse minha amiga, eu n ia curtir. nao gosto de gt q passa vontade nas pessoas por prazer, e deixa os outros na seca. kkk
É aquele lance: "um dia da caça, outro do caçador", mas quem disse que ela não iria gostar de inverter os papéis?!
Postar um comentário