sexta-feira, 8 de abril de 2011

Era uma vez o Sr. Otário e seu burrinho

A gente confunde tolerância com condescendência. As duas ali, juntas, próximas, muitas vezes se mesclam e fica difícil definir em que pé que se está. Excesso de tolerância é veneno. O respeito ao livre-arbítrio do outro não pode interferir de modo nocivo no meu livre-arbítrio.

Perdoar não é ser otário. Mas se eu me permito enganar mais de uma vez pela mesma pessoa, talvez eu devesse rever certas coisas. Minhas companhias, por exemplo. O mesmo vale naqueles casos em que se vive situações similares com pessoas diferentes: errei e sofri da primeira vez e o que vou fazer na segunda? Repetir tudo de novo? Ser leal a alguém que simplesmente não é digno dessa lealdade? Aí é escolher o caminho da auto-flagelação, porque é isso o que vai se acabar fazendo.

Há coisas que são intoleráveis e cada um sabe o que pode tolerar/suportar. Bom, nem sempre sabe, na verdade e é por isso as pessoas sofrem. Acredito que em 70% dos casos em que alguém nos faz algum mal ou nos faz sofrer é porque nós permitimos. E me incluo nesses 70%, porque às vezes queremos ser amáveis, legais, agradáveis, prestativos ou simplesmente não queremos entrar em conflito ou ser rejeitados. E topamos qualquer coisa, sem ponderar o que aquilo vai nos custar. Depois, mais sóbrios (ou sofridos?) ponderamos arrependidos: Onde fui amarrar o meu burrinho? Se nos conscientizamos disso e não caímos na mesma da próxima, bom para o burrinho. Do contrário, se alimentamos pessoas que vão querer sugar nosso sangue/ energia/ amor/ dinheiro, bom, azar o nosso - e do burrinho, que esperará omisso a onda de um Tsunami  arrebatá-lo.

É preciso aprender a dizer "não". Crianças precisam de muitos "nãos" e nós também. Estamos numa cultura em que se cultua o "sim" e ninguém sabe ouvir "não", ninguém sabe/ pode/ quer se frustar, como se isso fosse a pior coisa do mundo. Não, não é: a gente erra, cai, quebra a perna, conserta o fêmur e depois continua. É simples, embora dolorido. Claro que a dor depende mais uma vez de cada um, tem a ver com o que cada um dentro de si e não com a gravidade da fratura.

Temos que aprender a nos impor, pois o preço/peso da permissividade é alto demais, na minha opinião. E estão inclusos os amigos, a família, os(as) namorados(as), os colegas de trabalhos, os prestadores de serviços, os atendentes etc.

Por que não posso respeitar o outro e ser igualmente respeitada? O fato é que o respeito é algo que se conquista dia-a-dia e algo que deve ser reconquistado continuamente. Do contrário, as relações entre as pessoas tendem a piorar, pois todo mundo vai achar que pode fazer/ dizer o que quiser. Bom, muitas pessoas já fazem/ dizem, e a culpa disso é muitas vezes nossa, porque tolerância pode se confundir com condescendência. E a condescência é a irmã gêmea da omissão.

3 comentários:

Daiany Maia disse...

E como está difícil não confundir tolerância com condescendência. Ontem eu postei sobre a Angêla Bismarchi, notícia que na verdade era pegadinha, mas a revolta é verdadeira. Cada vez mais a gente vê coisas absurdas e não temos maturidade pra medir reações. Difícil.
=*

End Fernandes disse...

as pessoas perdem o respeito e acham que isso eh intimidade

nao acredito muito nisso nao, tudo se desgasta e não devemos querer ser agradáveis a ponto não reclamar.

Abrç

Rossana disse...

Excelente o texto!!!
Como é difícil se dizer NÃO!!