O meu reflexo no espelho me diz uma coisa: isso é só um aspecto de você.
Já pensei muitas vezes como essa questão de “eu sou tal coisa” é frágil. Uma pessoa é loira e em 35 minutos ela pode ser morena. Uma pessoa é gorda mas com dinheiro, SPA, massagens, plásticas, ela pode ser magra em um mês (o apresentador do Videoshow está aí pra nos mostrar que isso é possível - e também para mostrar que engordar só precisa de 15 dias).
Uma pessoa é muito séria, centrada e depois de 3 tequilas está em cima da mesa tentando fazer moon walk.
Um cara pode ter sido fiel durante 23 anos do casamento dele até que a estagiária nova o enlouqueça no almoxarifado da empresa. Uma mulher é quieta, tímida, até que alguém bata no filho dela e ela resolva dar uma outra utilidade para os espetos do churrasco de domingo.
Algumas coisas são superficiais como a aparência física, quero dizer, a aparência física é muito mais suscetível a mudanças. Já traços “psicológicos” são mais constantes – em sua maioria, mesmo assim, são ligados a escolhas.
Esses dias estive lendo sobre Ética e o jeitinho brasileiro, e o autor comentou que ser ético é uma questão de escolha, parece até óbvio, mas o que ele estava querendo dizer é que agir corretamente não é inato, como se a pessoa já nascesse com o dispositivo para agir corretamente ou não. Isso me fez lembrar ainda mais que apesar de certos comportamentos nossos serem constantes, eles são escolhas. Você escolhe estar do jeito que está, escolhe quando, inclusive, resolve fazer nada.
Eu me ‘defino’ muito pelas coisas que eu gosto: eu sou uma pessoa que gosta de música, gosto de ler, gosto de cozinhar, gosto de vinho, gosto de escrever e etc., no entanto, eu não falo: eu sou musicista, sou leitora, cozinheira, enóloga, escritora. Se as atitudes que eu sempre tenho não me definem ao ponto de eu poder afirmar essas coisas, me classificar nessas categorias, por que será que as pessoas se sentem tão à vontade para dizerem: eu sou leal, sou isso, sou aquilo...?
Pra mim a questão é muito mais no estar alguma coisa. Mas essa é uma discussão que vai para o campo da
Linguística, não é? O que a gente pode fazer se a língua é, por si só, ambígua?
2 comentários:
A distinção entre o ser e o estar é uma das coisas mais bacanas da nossa língua.
E nossas definições são mais ou menos como vc falou. Existem, mas não são linhas defidas e sim borrões
uma coisa que penso muito qdo estou vendo em mim um comportamento constante que considero negativo: os defeitos devem ser corrigidos e não abraçados
e não quero morrer como nasci
quero evoluir durante a vida
por mais penoso que isso seja
Postar um comentário