Sou uma mulher desconfiada. Sou uma mulher feita de sangue, pulsar de veias, artérias, volúpia. Sou uma mulher com palavras penduradas na ponta da língua, com sentimentos transbordando pelos poros e com desejos direcionados aos alvos que quero alcançar. Não conseguiria ser de outro jeito e, por isso, sou desconfiada. Desconfio da serenidade perpétua e estática das que repousam solenemente as mãos sobre o nada. Duvido do sorriso sempre constante e da suposta alegria que parece fazer morada em bocas que nada dizem. Não acredito no excesso de doçura pegajosa. Não consigo imaginar a vida cor-de-rosa posta diante dos meus olhos. Talvez porque eu seja tempestade. E talvez porque também seja a bonança após a chuva, vislumbrada no final das quinze cores, misturada à dor e à delícia dos sonhos secretos que de tão secretos não me contam quando sonhados. Sim, quinze cores. Sou uma mulher que tinge a vida com quantas cores quiser. Não posso conceber uma mulher sem uma porra na boca de vez em quando. Assim, com duplo sentido mesmo. Sou de muitos sentidos, uma infinidade deles, todos desaguando num leito de lençóis de linho amassados pela espera. Não acredito na candura milimetricamente medida das palavras soletradas uma a uma. Não quando posso soprar calmaria em forma de palavras obscenas no ouvido adestrado a entender meu canto. Desconfio do olhar delineado, do cabelo impecável e da boca contida. É contra meus princípios acreditar na mentira forjada de uma Barbie de plástico, sem vida, suor ou lágrimas, que mora num lugar de faz-de-conta e vê, escondida, vidas passarem na sua frente, escolhendo a que melhor lhe cabe nos seus dias vazios.
Só uma coisa me irrita mais ainda: criaturas desprovidas dos mais elementares componentes de um cérebro saudável e que sonham ser um Ken.
[Sou uma mulher que não gasta palavras, batons, vestidos, língua e munições com isso. É desperdício de veneno...]
3 comentários:
HAhahah!
Grande aquisição!
Beijo na trave pra quem quiser.
[P]
Na próxima vez deixa uma linha pontilhada pra eu assinar em baixo.
Eu gosto disso, dessa intensidade, dessa clareza e definição.
Que bom que chegou.
beijo
Acabamos ficando articiais e raramente contradizemos a vontade popular para não ficar sozinhos com a nossa próprias magoas...
Mas quantas vezes ficamos realmente sozinhos quando seguimos os outros cegamentes?
Penso que muito mais vezes que possamos suportar ao buscar a nossa felicidade.
Fique com Deus, menina [P].
Um abraço.
Postar um comentário