“Penso, logo existo.” – já dizia o bom e velho Descartes.
Ah, o pensar... essa propriedade que nos torna humanos, demasiado humanos, tal como Nietzsche gosta de nos referir.
Filósofos – esses “pensantes” que de tanto pensarem tentaram definir e compreender o que é o homem e como ele age no mundo.
A filosofia foi à mãe de todas as disciplinas. É dela que se originou todo o conhecimento existente. É ela que colocou o homem no status em que se encontra: rei do universo.
No entanto, não existiria filosofia sem a maravilhosa capacidade do pensar. Esse milagre que nos permite compreender quem somos, de onde viemos e para onde queremos ir. O raciocinar que atua no homem não é um mero pensar, tal como faz o cachorro que, utilizando mecanismos sinápticos de seu cérebro, sabe que não deve entrar em casa senão levará uma bronca.
O raciocinar é um fenômeno mais complexo. Ele envolve uma série de recursos imaginativos, de memória, reflexão e abstração, que permite que o homem se coloque em termos futuros ou que o remeta ao passado, preso, por exemplo, às memórias de uma intensa paixão ou de momentos felizes. É o raciocínio que possibilita pensar-se homem, vivendo este momento, em determinado contexto específico.
Enfim, o pensar foi e é o que define a humanidade tal como hoje se estrutura. No entanto, o grande problema surge quando o homem se resume ao pensar. Explico melhor: quando o intelecto se faz tão presente e predominante à ponto de não ouvirmos nossas sensações, sentimentos e (àqueles que crêem) intuições, aí reside a casa do diabo.
Não, não se trata de uma seita ou de qualquer questão espiritual. Epistemologicamente a origem da palavra “diabo” vem de divisão, daquilo que segrega, fragmenta, distancia. E é isto que muito tenho visto por aí. Cabeças pensantes, mas com completa dissociação do corpo. Ou, ao contrário, corpos esculturais, mas sem nenhuma cabeça.
À partir disso, não demora muito para surgirem as doenças psicossomáticas, as crises de ansiedade, os estados depressivos, as anorexias...
A experiência que tive, graças ao teatro (sou atriz) ensinou-me que o corpo não só fala, ele pensa. O corpo pensa por todos os poros, por todos os espasmos, por todos os sentidos. Tato, audição, olfato, visão e paladar são sensores que garantem ao corpo memórias que serão indelevelmente registradas e arquivadas no “pensar” do corpo. Diante de uma nova situação, todo o corpo reage, buscando memórias já vividas e guardadas.
É isso o que, no teatro, leva a um dos conceitos de “memória corporal” ou “memória emotiva”.
Contudo, tornamo-nos leigos corporais. Perdemos a sensibilidade fina de nos antenarmos com o corpo e apreendermos a rica contribuição que ele nos garante. Os yoguis já sabiam disso, através da yoga (união) entre corpo, mente e espírito.
O corpo é um grande mestre a nos ensinar. Portanto, da próxima vez que tiver de tomar uma difícil decisão, pare um momento e ouça o que o seu corpo como um todo lhe diz.
Concordo, Descartes, que o homem começou a existir quando se tornou capaz de pensar. Mas adoecerá se somente pensar e não aprender a se “corporificar”.
6 comentários:
Tati,
Também acho que não dá para pensar mais em apenas um aspecto, e muito menos achar que isso é 'normal'. Tem gente que acha que por sem inteligente pode descuidar inteiramente do corpo e pessoas que por ser bonita acha que não precisa ser inteligente. Um erro. Mas vái além disso, né? É uma questão de harmonizar todos os nossos aspectos.
=**
Eu penso, penso muito, talvez não pense coisas interessantes ou grandes passos para a humanidade, mas penso. E muitas vezes não chego a lugar algum.
Às vezes penso tanto que esqueço de agir ¬¬'
Beijo,
Nara
Dai, acho que a palavra harmonizar e por voce bem colocada. Quando priorizamos uma de nossas varias capacidades sensoriais ou perceptivas acabamos por causar um desequilibrio no corpo que pode gerar transtornos e enfermidades.
Vivamos plenamente entao!
Beijos
Tati Mitleton
Rrsrsr
Nara,
Estou rindo porque esse e um problema meu tambem. Sou... como dizem pensativa, reflexiva, mas nada pratica e objetiva.
Tanto que meu apelido na minha turma de teatro de "Pigri", de "Pigricinha".
Ate mais!
No final, os sentidos são ferramentas para perceber como é o meio ambiente, então traduzido pela mente...
Mas você me fez pensar nas mensagens que acabamos por passar com o corpo, muita vezes até de forma subliminar, apesar de nunca pensar que o corpo em sim fosse tão complexo ao ponto de "pensar", interessante.
Fique com Deus, menina Tatiane.
Um abraço.
Daniel,
o corpo e realmente um milagre e um complexo belo e admiravel. E o espaco onde marcas sao indelevelmente registradas.
Isso acontece quando sentimos a falta corporal de uma pessoa querida. Chega a doer. Apesar de triste, nao podemos negar a beleza de nosso maravilhoso instrumento: o corpo.
PS: Se vc se interessar leia: "O corpo e seus simbolos: uma antropologia essencial." de Jean-Yves Leloup. Integra corpo, mente e espiritualidade
Fique com Deus.
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