Tema: Existe dignidade na dor?
Eu levo um soco no estômago e caio espatifada no chão. Sou pequena e leve, embora a alma por vezes pese. Fico olhando os pés passarem. Alguém escarra e aquilo espirra em mim. Dignidade? Não na dor, mas no modo como a encaro.
Sem drama, sem salseiro, sem a efusão das lágrimas que me consumiriam. Quando você se dissolve no próprio choro moído e doído. Digno é chorar baixinho, sem arroubos, sem delírios. Digna é a dor comedida de boa moça de família que engole o choro enquanto o mundo a engole. E aí?
Nem sempre dá, porque a dor me arrebenda o peito e as tripas sujam o piso frio e branco. A vida acética e meu corpo um tumor de quê? Digno então é pegar um pano limpo e pôr as tripas para dentro de volta. Mas, às vezes, elas precisam ser ostentadas:
- Olha, sou gente.
E, às vezes, é mais fácil ser digno em qualquer outra situação do que na dor.
2 comentários:
Nossa, que texto mais poético.
Acho bonito isso, é meio complicado falar em dignidade na dor, mas faz todo o sentido ter dignidade na maneira como a encaramos.
beijo!
Dos seus melhore, com certeza!
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