domingo, 5 de agosto de 2012

Nem tão presa, nem tão livre.


Tema: Como o fato de a gente estar inserida numa cultura machista faz com que tenhamos uma visão distorcida sobre nós mesmas.




Eu não posso dizer que tive uma educação machista. Eu brinquei com os meninos da rua, e briguei também. Tive estilingue, bola de futebol, dardo, autorama.... E, para tranquilidade dos conservadores, eu tive boneca também. Brinquei de tudo, fiz de tudo. Eu tinha roupas de menininha... Mas tinha também meus bermudões do Mickey e outras roupinhas que normalmente os menininhos que usavam. Meus pais sempre priorizavam comprar  roupas confortáveis, além disso, eles nunca disseram: “agora você tem que parar com isso porque está virando mocinha”. Enquanto algumas mães não deixavam os filhos assistir certos desenhos violentos, ou brincar de lutinha... Eu e minha irmã estavamos lá, dando nos golpes mortais no ar, no pilar, e as vezes uma na outra. Revólver de água também, espingarda de chumbinho também, tudo mais também... Então, eu demorei a perceber que o machismo existia, que aquilo não era o normal. Que as outras meninas usavam mais rosa, que as outras meninas usavam mais saia, que as outras meninas não jogavam futebol...

Na adolescência, eu comecei a abrir meus olhos. Descobri que todas as meninas já falavam de esmalte e eu não ligava pra esmalte. Maquiagem? Até hoje não sei o que é ter isso como religião. Também não ligo pra roupas passadas e quando penso em peso, confesso que me preocupo mais com a tendência familiar a colesterol alto e outros males do que com padrões de beleza e etc.  Ainda assim, tenho meus momentos...

Quantas vezes não respirei fundo antes de tentar falar com um dos senhores do sindicato patronal da empresa em que trabalho...  Quantas vezes me questionei: quero mesmo gerenciar funcionários machistas? Quantas vezes controlei meu modo de falar, quando queria soltar os cachorros, porque não queria perder a razão, porque não queria que minhas queixas fossem reduzidas a uma crise de TPM ou de infelicidade no amor....  Me senti incapaz várias vezes, por pura preguiça de lidar com o machismo nosso de cada dia. Já me senti fraca, porque achei a cultura machista forte demais.

Quantas vezes não questionei se não era meu jeito estabanado e desligado que teria feito o mocinho não gostar de mim? Afinal, nunca fui delicada como dizem por aí que as boas meninas são. Será porque mato baratas sem medo que ele não gosta de mim? Ou porque eu bebo demais e não escondo? Será porque estou acima do peso? Será porque não faço questão de cozinhar? Será porque não sou organizada? Será porque não sou feminina o bastante pra ser interessante?

E fico me perguntando, me perguntando, me perguntando... Até lembrar que já houve quem gostou de mim assim, até lembrar que eu gosto de mim assim, até lembrar que isso é uma bobeira sem fim e sem tamanho e que é melhor estar só do que estar acompanhada de um cara machista.


E se pra mim, que não sou filha de pais machistas, essa ficha demora a cair... Não me é estranha a ideia de que a cultura machista faz muitas vítimas por aí.



Um comentário:

Daiany Maia disse...

É que contra o machismo não tem argumentos, né? Tudo o que a gente fala se resume a: "ela é uma mal comida".

=/

É difícil não ter preguiça.