terça-feira, 15 de junho de 2010

Pra não dizer que não falei das flores

Hoje eu fui caminhar na USP com a minha mãe. Acordamos bem cedo, às cinco e cinquenta da manhã (aff!), naquele frio de congelar, e fomos, corajosas, realizar a caminhada.

Sabe como é, frio, manhã, e cama quentinha não combinam. Ainda meio tonta, pensei cinco vezes antes de levantar da cama. Resisti. Era preciso começar a rotina de exercícios que havia parado há dois meses.

Enfim, levantei. Minhas pernas estavam frouxas e, já em frente a pia do banheiro pensei se valia mesmo a pena jogar aquela água gelada no meu rosto, e me submeter ao ato penoso de ter que escolher a roupa que vestir, e colocar, dolorosamente (já que estava muito frio), a cacinha, o top, a blusa, a calça, o moletom, o casaco e o cachecol (preguiça pouca é bobagem, não é mesmo?). Meu corpo recuava. Corpo nenhum acostuma aos remotos 10º graus! Que ousadia achar que eu, uma mera mortal, enfrentaria impune ao poderoso coquetel de frio, sono e preguiça.

Contudo, sempre há as mães. E ela me acordou, encorajando-me. Enfim, pelo menos havia concordado em levantar da cama e estava obstinada a calçar seus tênis. Não havia como voltar atrás! Mamãe iria caminhar.

Não sei como cheguei à USP. A mão divina me abençoou. Estacionei e SURPRESA! Pista de correr fechada. Ah não! Os portões atravancados já somavam outro obstáculo a minha pouca fé na caminhada.

Porém, já que estávamos lá, lá resolvemos ficar, e fomos caminhar por ali mesmo, ao redor do lago, entre as árvores... entrecruzando os arbustos.

Aos poucos o entorpecimento foi dando lugar a admiração diante daquela paisagem. O lago, em sua áurea de mistério, estava coberto de uma neblina branca, que tornava belíssima a imagem. O sol, já começava a atingir o topo das árvores, tingindo de dourado aqueles altos e imponentes monumentos. O céu estava azul. Impressionavelmente (se me permitem o neologismo) azul, como se todo aquele anil nos abraçássemos. O ar fresco e puro, as flores em suas cores intensas, os pássaros, tudo transmitia felicidade e paz.

Eu estava extremamente feliz, minha mãe estava feliz, e tivemos uma manhã muito agradável.

Esse pequeno relato diz muito do que quero dizer, ou melhor, transmitir. É certo que os animais, os vegetais e os homens fazem parte de um equilíbrio tênue e fundamental para a existência do planeta. É certo que qualquer alteração nesse equilíbrio trará alterações irreversíveis a nós e a nossa forma de viver. É certo que devemos primar pela sobrevivência dos animas ameaçados de extinção, para que essa cadeia ecológica não se quebre.

É certo. Mas eu não quero falar aqui do que é politicamente correto. Eu quero dizer do que nos torna humanos, demasiado humanos.

É essa nossa capacidade de nos encantar com a beleza do mundo, de apreciar as cores, os cheiros e os gostos de uma bela manhã, que nos dá o caráter da humanidade. É essa capacidade de nos entregar ao belo que nos distingue da barbárie.

Apreciemos, então, a beleza:

• Apreciemos esse azul, que não é do céu













Palanca azul[1]

· Apreciemos esse verde, que não são das árvores
 













Periquito da Carolina[2]







· Apreciemos esse dourado, que não é do sol







Leão do Atlas[3]



Apreciemos a humanidade, pois, diante de tanta barbárie, creio estar em vias de extinção.

Tatiane Mitleton, sem mais nada a dizer.
[1] Palanca azul, originária da África, extinta no século XIX.
[2] Periquito da Carolina, originário dos EUA, extinto no século XX.
[3] Leão do Atlas, originário do norte da África, extinto em 1922.

2 comentários:

Nara disse...

São seres, né? Eles também têm direito a vida.

Beijo,
Nara

Tatiane Mitleton disse...

O homem, em sua prepotencia, acredita ser isolado, desvinculado desses seres. E muito triste enxergar essa cegueira do homem.