quarta-feira, 27 de julho de 2011

O passo, o norte e os outros

Perdi a mão, o passo e o tempo. Perdi a linha, o centro e norte. Perdi. Perdi porque perco sempre. Perco aos outros, a mim e a quem quiser. Perco porque me distraio, me disperso, me espalho. Perco porque está em mim perder.  Perco porque busco a leveza.

E a leveza é insustentável e não é porque o Kundera disse que era, não não. A leveza é insustentável porque há em nós o nosso próprio peso, primeiramente. E depois, como levar uma vida que não carregue nada? Que não suporte nada? As leituras que fiz me pesam como o mundo - sou Atlas.

Embaraço-me com todos os blues e bossas que já ouvi. Chico me pesa como chumbo. Filipe Catto¹ passou a me pesar. Clarice, Nelson Rodrigues, Dostoievski, Álvaro de Campos, García Marques, Lorca, Neruda, Llosa² e tantos outros me pesam e eu não consigo desvencilhar-me. Não. Nem quero.

Aí pelo caminho eu coloco em meus ombros tantos outros, Almodóvar, Woody Allen, Lars Van Trier, Tarantino, Coppola...

E é por isso que perco. E já me sou tão pesada que perco outras coisas menores. Perco o jeito, perco a etiqueta, a regra, o “bom mocismo”. Perco. Perco o certo. E perco pessoas. Ganho outras tantas, é verdade, mas vivo perdendo pessoas pelo caminho. Estão todas na minha sacola de Félix³, mas de repente já não as encontro mais, não nos encontramos mais, não me encontro quando com elas.

É que toda a minha bagagem é peso, mas há pessoas que são fardos. Muitas vezes eu mesma me torno um.

¹ Quem me apresentou foi a Miss
² Apresentando a mim pela Menina Misteriosa
³ Expressão usada com todo lirismo pela Frau Forster e eu peguei emprestada 

16 comentários:

Lucão disse...

:)
há pessoas que dão pena. há pessoas que dão asas.

MissUniversoPróprio disse...

E nesse constante perder-se é que acabamos por nos encontrar, efetivamente com o que somos de verdade.

Ao meu ver, é primordial esse vai e vem de perdas e ganhos, riqueza diária que nos preenche, nos emoldura e nos vai talhando, dia após dia, seja através de pessoas que passam, arte que fica, ou sentimentos que brotam, e permanecem.

Obrigada por me citar, querida! E, em tempo, quem me apresentou ao Filipe Catto foi a Menina Misteriosa ou a Ju Sandres, minha memória me inebria. ;)

Beijos!

Daiany Maia disse...

Miss,

é isso mesmo. Disse tudo de uma maneira sucinta e bonita que eu não fui capaz.

E eu que agradeço. Agradeço pelo tempo comigo, pelas indicações e trocas.

=*

MissUniversoPróprio disse...

Se alguém tem que agradecer, esse alguém sou eu, por quê a leitura aqui é sempre deliciosa, leve e inspiradora.

=** =)

Daiany Maia disse...

Definitivamente, eu quero uma ferramenta pra curtir comentário.

Obrigada, Miss!

Estela disse...

Dizem que a vida é isso aí, perdas e ganhos. Em alguns casos prefiro evitar ganhar uma companhia temporária que sei que não suportorá o fardo de quem eu sou do que ser obrigada a perder essa pessoa pelo caminho e quebrar todo o carinho que construí sobre ela.
Sim, não sou uma boa mocinha, mas tenho sentimentos.
Dai, gostei mt do seu texto, contém verdades :)

Beijos

DBorges disse...

Somos peso pra nós e para o mundo.
Mas o peso literário não chega ao peso que certas pessoas disponibilizam sobre a gente.

Mari disse...

Adorei o texto, Dai!! Esse peso constante e inserido em nós, nos toma por inteiro e fica cada vez mais dificil se livrar dele... O peso só faz se acumular com o tempo e nesse caminho, com essa bagagem, a gente acaba se perdendo... E quanto mais tenta se achar, mais se perde Demais!!! ADOREI!!!!

Nara disse...

Ai Dai, apertinho no coração.
Texto lindo lindo lindo lindo.
mais uma vez.

Beijo

Unknown disse...

Dai,

eu amei demais. Nossa, Dai... nem tem o que dizer. É o tipo de texto que não precisa de comentários. Não merece comentários, só merece aplausos. Guarde esse texto com carinho, porque ele é muito lindo.

E o comentário do Lucão, perfeito né?

A MissUP soube dizer o que eu gostaria, mas não me veio tanta clareza á cabeça. Acho que fiquei tonta e muito admirada com o texto. Lindo, lindo! Ela foi sim, mais sucinta, Dai. Mas o seu jeitinho de fazer as conexões entre as perdas e ganhos foi perfeita em descrever um pouco (ou sei lá quanto, não sou eu que vou medir) de você.

Nossa, eu gostei demais!

:D

Daiany Maia disse...

Carol,

que bom que gostou tanto ^^
Ele é muito de mim sim, esse eu não posso negar.

Gosto quando vcs comentam, me sinto abandonada xD

beijo!

Elaine Gaissler disse...

Oi Dai, não se sinta abandonada não rs, "tamo aqui" ;)
Vc fez um ótimo texto.

Abraço.

Songa disse...

Putz... "sacola de Felix", eu chamava de "Maleta..." e, por vezes, fazia analogia com os misteriosos objetos guardados junto à pelagem do Cap. Caverna.

Daiany Maia disse...

Songa, eu tinha certeza que seu comentário, se houvesse, seria a respeito do gato Félix... :P

Frau Forster disse...

A bolsa do gato félix é o que há de mais moderna tecnologia: é maior por dentro - assim como nosso estômago =P
Lindo texto, Dai! Você estava bastante inspirada ^_^
Beijo

Luna Sanchez disse...

Não perde não, só deixa solto, deixa ir, deixa ficar.

Deixa ser.

=)

Beijo.