quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Promessas, passagens e ritos

Esse ano eu tive mais acesso a internet, não sei se por causa disso ou não, mas percebi uma postura muito mais crítica das pessoas em relação ao Fim da Ano e às promessas de mudanças e todo aquele pacote que a gente já conhece muito bem.

O que era dito em alto e bom som é que nada muda de um dia para o outro, ou seja, o que faz as pessoas pensarem que do dia 31 para o dia 1º haverá algo tão extraordinário ao ponto de dizerem, de fato: é o começo de um novo tempo. A grosso modo, tudo não passa de uma marcação oficial de calendário, muda-se aqui, não muda-se lá, é apenas uma mudança formal, visto que não há nada na natureza, por exemplo, que diga que agora acabou-se um ciclo e começou outro.

Concordo com isso, que o calendário, assim como quase toda marcação de tempo, não passa de um aspecto formal decidido pelos homens e que a gente, inclusive, não deveria se descabelar tanto com ele (com o tempo, mas pode ser também com os homens).

Mas eu comemoro essa passagem. Acho que cada vez mais haverão críticas em relação a isso porque cada vez mais as pessoas perdem a noção do que seja um rito. Nada sabem de passagem, de preparação, de mitológico. Nada sabem do momento mítico que o Joseph Campbell tanto falava. As pessoas perderam a noção de Sagrado.

Por acreditar que as coisas vão muito além que o ritual que as representa (por exemplo, pouco importa se, na hora do casamento, o padre está quase dormindo, o que importa é a motivação dos noivos e o compromisso que eles assumem para si e diante dos outros). Eu acredito que as promessas que assumimos quando o ano começa é uma questão de postura. Anunciamos que um ciclo se passou. Que o que foi feito foi feito e não adianta remoer ou viver de comemorações sobre eles. É preciso continuar. É preciso deixar esse ciclo terminar para que outro venha. É preciso tomar fôlego e dizer: vou em frente.

3 comentários:

Elaine Gaissler disse...

É... Nada acontece de um dia para o outro! Então, como vc disse: "Tomemos fôlego", será preciso.
Abraço.

Lipe disse...

Acho muito mais notável o Rito de Passagem das Estações do Ano, ou dos Dias mesmo...por serem mais ligados à Natureza.

O Sagrado e o mágico se perdem cada dia mais....cadê a magia do Natal? cadê a magia dos Contos de Fadas antes de dormir?...cadê a expectativa pra todas as comemorações? Páscoa? Por mais que tudo pareça cheio de intenções capitalistas, ainda era válida a espera, a emoção envolvida, nem que for a da ansiedade.

Estamos ficando muito sérios e críticos. Já dizia o U2 -> "The more you know the less you feel" (Quanto mais se sabe, menos se sente.). Acho que é por aí.

Beijos

Ana B. disse...

gostei muito do que vc disse no final!

acho que todo dia passamos por uma virada a meia noite, passamos também pela virada das semanas, dos meses... sempre podemos aproveitar pra rever, desapegar, fazer novos planos, tentar retornar ao caminho dos nossos sonhos...

quanto ao ritual do ano novo, acho interessante pq provavelmente é o dia em que as pessoas mais mentalizam coisas boas... talvez o ano seria mais doce se a humanidade pedisse por paz e etc mais vezes, e se voltasse pra isso mais vezes, como faz no ano novo...