quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Clarice e minha mãe

Você seria capaz de dimensionar a influência que a arte exerce na sua vida? Música, literatura, pinturas, dança, alguns desses elementos se misturam entre si e se misturam com as coisas que os cercam.

Se é difícil mensurar a influência de algo que nos predispomos a fazer, como assistir um filme, por exemplo, como mensurar a influência que a vida de outras pessoas exerce sobre a nossa?

A influência de outras vidas na nossa vida volta a tocar na influência da arte, porque vidas que não tivemos contato pessoal acabam nos tocando através de páginas, películas ou esculturas, entre outros. Há vidas que influenciam através de uma tela de computador. À distância. Através da saudade que sentimos delas. Há vidas que tocam e ponto.

Certa vez, lendo a biografia da Clarice Lispector, vi que ela foi contemporânea da minha mãe, fiquei profundamente surpresa pela descoberta tão simples. Minha mãe poderia ter conhecido a Clarice, mas sequer sabe da existência dela, ainda hoje, aliás. Claro que antigamente era mais difícil, não havia a facilidade da tecnologia, desses novos meios de comunicação, como a internet.

O choque não é ela não ter conhecido a Clarice, necessariamente, mas a percepção de que muitas vezes uma pessoa muito especial pode estar ao seu lado e você nem irá perceber, quantas Clarices sentaram já ao seu lado no ônibus?

Antes de ler blogs e cursar minha faculdade, achava que existia uns poucos “escolhidos” que liam, que gostavam de certas coisas, que ouviam alguns tipos de músicas, mas, sobretudo, depois de passear pela internet vi que existem muitas pessoas que gostam de ler, leem coisas que eu achava serem lidas por grupos seletos e bandas que eu considerava underground são mais pops que..sei lá...Britney Spears?! (exemplo ruim...o.0)

Mas apesar dessa falta de consciência dos momentos especiais pelos quais passamos, alguns são reconhecidos. Há alguns momentos que você tem a absoluta dimensão de que aquilo é muito especial e único, um favor do Acaso, um seredipity.

Nesses momentos extraordinários somos invadidos pelo sentimento de gratidão. Percebemos como somos agraciados pela presença (muitas vezes uma presença virtual) do outro. Nada supera isso. Nada.

E aí, pronto pra olhar quem senta ao seu lado?

 Quadro: Romero Britto

2 comentários:

Daniel Savio disse...

Interessante o post, pois realmente as vezes focamos demais na origem nobre das coisas e esquecemos que há muitas delas iguais, ou melhores, ao nosso lado...

Dai, não sei se conhece a Barbara, mas penso que tu vai gostar um pouco do blog dela: http://lesadosemgeral.blogspot.com/

Principalmente este post, pois penso que toca em abordagem diferente que tu pensou aqui: http://lesadosemgeral.blogspot.com/2010/10/ancestralidade.html

Fique com Deus, menina Dai.
Um abraço.

Ana B. disse...

É verdade!
Em alguns momentos é uma delícia encontrar pessoas com os mesmos gostos que antes achavamos que eram muito particulares...
Por outro lado, lembro que, vez ou outra, encontrei algum humano com gostos semelhantes mas ao mesmo tempo valores bem medíocres, e aí me deprimi...
Perceber que não é só a cultura que faz alguém admirável, que é possível ter bom gosto sem ter bom senso pra sentimentos e relacionamentos interpessoais, me fez perder um pedacinho do meu mundo "rosa"...
Mas enfim, atualmente estou numa cidadezinha pequena e nova, e não vejo a hora de encontrar gt com gostos parecidos, ainda que com valores totalmente diferentes dos meus!
Beijo, dona Dai! xD