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"Fez de gato e sapato" |
Tema: Sobre dar foras
"Você acaba de ganhar uma bota e um sinto... muito"
Eu devia ter uns doze anos quando vi, pela primeira vez, alguém levar um fora: uma coleguinha fez um garoto de gato e sapato para depois dar-lhe um fora homérico.
Aquilo me marcou. Rejeição é uma das coisas mais comuns da vida e uma coisa da qual ninguém escapa -, mas o modo como se pode executar tal tarefa pode ser a diferença entre o purgatório e o inferno (mas isso sem esquecer que pode ser alívio geral da nação, mas isso são outros quinhentos...)
O lance de se dar uj fora nunca é o "o que": é sempre o "como". Eu não discuto isso, cada um com a sua natureza, com a sua maneira de alimentar o ego. Não tenho nada com isso, só tenho para mim que há inúmeras maneiras de dizer:
- Olha, não vai dar...
ou
- Não vai dar mais...
E todos os derivados.
Não digo que é preciso dizer tudo. Bom... Será que é sempre bom dizer porque não deu certo? Qualquer coisa é melhor do que coisas como:
"Não sou eu, é você";
ou
"Você merece alguém melhor do que eu"
Acho mais digno o jogo limpo e aberto dos talheres postos sobre a mesa do que a saída da prataria pela porta dos fundos. Quantas histórias não conheço de relacionamentos que acabaram via e-mail, SMS, MSN, telefone... Falta de... Não sei, digo, é falta de tanta coisa, sabe? Acho que é uma cartada final de... descaso, de não se importar. E diz uma amiga minha que se alguém te diz "você merece alguém melhor do que eu" é bem possível que você realmente mereça.
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Strike one? |
Bye bye. A gente erra por falta de jeito e maturidade, por não saber escolher as palavras certas. É preciso ser sensível. E a gente erra porque não se importa mesmo ou simplesmente porque quer também. Um erro que vira acerto? Certamente. É preciso tentar ser sensível. Nem sempre dá. Quantas vezes o fora não é uma resposta a um erro muito grande do outro? Ou então uma resposta a erros que se acumulam e tornam o ser uma coisa pesada e a existência insustentável?
Gosto muito da ideia das três bolas foras, a semelhança dos strikes de um jogo de baseball. Cada um tem para si o que é razoável e sabe até onde tolera certas coisas - muitas coisas não são negociáveis e fim de papo. Sabemos de nosso limites e do que estamos dispostos a abrir mão. Bom, deveríamos: assim nos pouparíamos e aproveitaríamos melhor nosso precioso tempo.
É preciso pensar no outro, mas é preciso pensar em nós também: tanto na hora de dar um fora quanto na hora de começar um novo relacionamento.