quinta-feira, 26 de julho de 2012

A marvada

Tema: cachaça e suas variações de sentido.



É Zé, nem eu acreditei quando vi. Mas foi desse jeitinho que te contei. A danada me enganou direitinho, Zé. Saía toda tarde dizendo que ia na casa da cumadre rezar o terço. Ah, safada! Desce mais uma da brava aí que hoje eu preciso beber pra esquecer.

 - Vai devagar que essa é marvada hein, Tião.

Marvada? Marvada é aquela sem-vergonha, Zé. Oh ódio que eu tenho naquela mulher. Precisava disso? A vergonha que eu passei, Zé. Eu não merecia isso não. Dei tudo o que ela sempre quis. Enchia ela de presente no fim do mês. Em casa tudo sempre do bom e do melhor. E como foi que ela me pagou? Me deu de troco um par de chifres! Desce mais uma, Zé, que remédio de corno é cachaça da boa. Tem que beber pra esquecer.

- Tião, vai com calma. O mundo vai acabar não. Cachaça não faz homem nenhum esquecer mulher. Pra esquecer mesmo, só quando arrumar outra.

Outra? Pra que outra? Pra me dar o mesmo destino de corno manso? Todo mundo sabendo, Zé. Os vizinhos tudo rindo da minha cara, pensa bem! Quero arrumar mulher nessa vida mais não. Minha mulher agora, minha companheira é essa branquinha mesmo. Que essa aqui não me decepciona, Zé. Essa aqui eu bebo, ela me deixa feliz e me faz esquecer do que eu não quero lembrar. Desce mais uma aí Zé. E pode caprichar, que hoje eu tenho que beber pra esquecer.


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