Tema: Com açúcar, com afeto
Ele deve me achar cafona, mas eu não me importo. Complicado confundir afeto com cafonice. Tenho uma vontade doida de lhe comprar livros, vinis, fazer bolinhos e passar em seu trabalho, só para lembrá-lo de como me importo.
Não é difícil me ganhar: me apego fácil às pessoas e às vezes rola até uma coisa meio de adoção, de querer pegar no colo e cuidar, tomar conta, espantar os monstros escondidos embaixo da cama. Não sei de onde veio isso, tão forte em mim. Dizer que no fim tudo fica bem - e dizer isso acreditando cegamente.
Só sei que achei que tudo isso não existisse mais até algumas semanas atrás, até reparecer, serenamente. Mas, como eu disse a um amigo meu, acho que certas coisas em nós nunca mudam, talvez apenas se transformem. Sutilmente. Antes eu adoçaria o seu chá e insistiria que você o tomasse antes que ele esfriasse. Hoje, adoço o seu chá e o deixo sobre a mesa. Não posso impedir que esfrie: há o seu livre arbítrio e você faz o que quiser com o chá. Entretanto, isso não me impede de continuar oferecendo-o, sazonalmente.
O chá pode esfriar, mas o meu livre arbítrio me diz para continuar servindo-o. É assim que funciona o afeto: ele continua, você permanecendo ou partindo. Ele independe de você, ainda que seja todo para você. E isso me assusta e fascina de algum modo.