Dona Mariquita nasceu em 1927 na fazenda do Papai Izaías, nas proximidades da cidade de Valença, no interior do Rio de Janeiro. Vivia lá com a mãe (mamãe Ana), o pai e os irmãos. Foi educada por uma professora que ia até a fazenda ensinar ela e os irmãos a ler e escrever.
Certa vez, em uma festa de Igreja na cidade, conheceu o Moisés Lacerda e se apaixonou. Casou-se contra a vontade dos seus pais. No dia de seu casamento compareceram à cerimônia apenas sua avó, que sempre esteve ao seu lado e os pais do noivo. Mudou-se com seu marido para Paraíba do Sul, onde teve sua primeira filha. Depois foi se mudando para as cidades onde ele arranjava emprego e carregando as filhas. Até que chegou em Congonhas, Minas Gerais e por lá ficou. Moisés foi trabalhar numa mineradora, a Companhia Siderúrgica Nacional. Em 1965 ela teve sua última das 5 filhas, Rita de Cássia.
Moisés era o amor de Mariquita. Por ele, ela fazia de tudo. E ele, um boêmio. Chegava em casa bêbado, frequentava os bordéis da redondeza e não fazia questão de educar as filhas. Mariquita, muito prendada, fazia de tudo para cuidar da família. Vendia bolo, verduras, chouriço; criava porco e fazia panos de prato de crochê. Abriu a pensão Lelé da Cuca, onde alugava quartos para rapazes solteiros que trabalhavam nas minas e servia refeições. Um dia Moisés saiu de casa e foi morar num sítio que comprou com o dinheiro que guardava e nunca ofereceu a Mariquita. E o pior: foi morar com uma prostituta que tirou de um bordel que frequentava. Mariquita ficou sozinha.
Talvez as cinco filhas que ela teve nunca tenham percebido o valor que aquela mulher tem. Talvez elas nunca tenham entendido como ela sofria. Ela tinha sim seus problemas. Gênio forte, difícil de lidar com sua teimosia. Mas foi com seu esforço e sua dedicação que pode oferecer-lhes um lar, boa comida, educação. Talvez não tenha sido a melhor mãe do mundo.
Mas pra mim, é a melhor avó do mundo.
Minha avó Mariquita é um exemplo de mulher pra mim. Uma mulher que nunca foi valorizada como deveria. E o pior: talvez não tenha sido tão amada como amou meu avô. Ama, até hoje, incondicionalmente. Mas ela nunca deixou de tocar sua vida, de um jeito ou de outro. Sei que cometeu seus erros, mas nada que a distanciasse de ser humana, de ser mulher.